A trilha musical de James Horner (talvez, a
mais bela e vibrante que ele fez em toda sua carreira) irrompe em cena, sem
espaço para preâmbulos e introduções históricas: É um campo de soldados,
notadamente ambientado –devido aos detalhes ricos do figurino e da cenografia –na
Guerra Civil Norte-Americana.
Assim, o filme do diretor Edward Zwick (talvez,
o melhor que ele realizou em toda sua carreira) se debruça sobre o homem comum;
os soldados são flagrados em ações corriqueiras jogando beisebol, conversando,
tomando café.
Conforme a cena (hipnótica como poucas) se
desenrola, a trilha assume ares sombrios (a guerra, afinal, está bem próxima),
românticos (a narração em off do protagonista, Matthew Broderick finalmente
começa a elucidar alguns fatos, na forma de cartas que ele endereçou à própria
mãe, preenchidas pelo lirismo da trilha sonora) e, por fim, épicos (quando a
produção revela seu propósito e entrega as majestosas e espetaculares cenas de
batalha, até hoje, as melhores reconstituições daquele conflito feitas no
cinema).
É, portanto, na concepção de tirar o fôlego,
dessas sequências de guerra a grande força deste filme muito louvado nos anos
1980, merecido vencedor de três Oscars: Melhor Som, Melhor Direção de
Fotografia, para Freddie Francis, e Melhor Ator Coadjuvante para Denzel
Washington.
Com a guerra ainda em curso, o Exército da
União (representante do sul) cria o 54º Regimento de Infantaria de
Massachussets, composto por ex-escravos voluntários. A idéia é usar os soldados
negros –a exemplo de outros regimentos de negros daquele período –na retaguarda
em trabalhos forçados e, para tanto, indicam para o seu comando o extremamente
jovem Coronel Robert Gold Shaw (Broderick), cuja patente, bastante elevada para
alguém de apenas 26 anos, foi obtida por sua contribuição na guerra –e,
certamente, devido ao influente pai abolicionista.
O treinamento militar é árduo para o
ex-escravos (que julgavam tirar a sorte grande no exército onde receberiam
alojamento e comida de graça), e esses revezes são acompanhados pela ótica de
um grupo em particular: O paternalista e austero Rawlins (Morgan Freeman,
veemente num papel que muitos consideram inspirado em Colin Powell, nomeado
Chefe das Forças Armadas dos EUA); o ponderado e alfabetizado Thomas (Andre
Braugher); e o rebelde e amargurado Trip (Denzel, num trabalho de momentos
realmente inspirados).
Não tarda para que o 54º Regimento demonstre uma
característica bastante particular: A de querer mostrar, em campo de batalha, o
seu valor e sua dignidade, o que os leva a liderar um assalto audacioso a um
Forte jamais tomado na Carolina do Sul.
Há um elemento embriagante em “Tempo de Glória”,
uma junção muito feliz de talentos jovens moldando um espetáculo à moda antiga:
Zwick tinha um bom currículo televisivo, mas em cinema havia dirigido apenas a
comédia, “Sobre Ontem A Noite” –e sua juventude posta à prova aliada ao fôlego
que empresta às cenas de ação é um dos aspectos singulares desta obra –também o
elenco, desde Broderick até Denzel parece ansioso para mostrar trabalho, e suas
atuações resultam comprometidas e apaixonadas.
Mas, a grande questão é que “Tempo de Glória”
é, acima de tudo, uma sucessão de cenas extraordinariamente maravilhosas e
envolventes, em seu incomum cuidado visual e no emotivo comentário musical.
Um filme de insuspeito
poder de emocionar.
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