sexta-feira, 14 de abril de 2017

Yamato

Não poderia este ser muito diferente mesmo do filme que é.
O Encouraçado Yamato é um elemento quase folclórico na Japão (a ponto de ter sido tema dos mais variados filmes, inspirando, inclusive, uma cultuada animação japonesa de ficção científica) onde ele teve papel significativo na Segunda Guerra Mundial, daí o tom de reverência deste filme que transpõe para a tela, de maneira claudicante e irregular, as aventuras da embarcação e sua tripulação.
O filme começa em 2005, às vésperas do aniversário de 60 anos do ataque a Okinawa –quando o Yamato foi afundado.
Nesse princípio, a narrativa do diretor Junya Sato mescla desajeitadamente cenas ficcionais com documentários, e uma narração em off destoante. Os muito habituados exclusivamente aos trabalhos de Akira Kurosawa, Kenji Mizoguchi, Seijun Suzuki, Takashi Miike, ou mesmo Kinji Fukasaku, no que diz respeito ao cinema japonês, ficarão decepcionados com este filme: É uma obra absolutamente democrática, na qual a pressão em homenagear os envolvidos confere certa solenidade à direção, o quê tolhe qualquer oportunidade de ousadia. Lembra muito um filme feito para televisão.
Passa longe dos valores de produção de alguns dos mais celebrados filmes de guerra dos últimos tempos, como “Resgate do Soldado Ryan”, ou mesmo da pirotecnia ostensiva de “Pearl Harbor”, embora a produção não tenha economizado recursos, sobretudo, na esmerada reconstituição em detalhes práticas do Yamato, da proa à popa.
A história começa de fato ao mostrar uma jovem desesperada por poder ser levada ao local, em alto-mar, que o Yamato afundou. Suas razões são inicialmente nebulosas, assim como os motivos pelos quais um navegador veterano de guerra –sobrevivente justamente do Yamato –decide, por fim, levá-la até lá.
Os flashbacks que ilustram o restante da trama estabelecem, com previsibilidade, os laços entre os dois, relatam diversas tramas paralelas envolvendo os membros da tripulação do Yamato e acabam servindo de pretexto –e somente isso –para a sucessão de cenas de combate, entre a imensa embarcação e as forças norte-americanas, culminando no fatídico dia em que o Yamato é afundado e o Japão, por conseqüência, derrotado.
São momentos intensos, contrastantes com o registro ameno da vida doméstica do Japão dos anos 1940 registrados em sua primeira parte, ainda que a direção não tenha sabido dosar os elementos dramáticos –que terminam soando melodramáticos.
Defensores poderão dizer, com alguma razão, que esta é uma postura condizente com a cultura japonesa, onde a honra e o auto-sacrifício ganham uma grande importância, mas se imaginarmos o quê sairia caso um dos grandes diretores japoneses citados acima tivesse se encarregado do projeto, podemos calcular o quanto a direção é limitada.

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