sexta-feira, 12 de maio de 2017

O Amante

Jean-Jacques Annaud realizou dois dos mais marcantes filmes dos anos 1980, “A Guerra do Fogo” e “O Nome da Rosa”, e por isso mesmo, esperava-se dele uma seqüência de trabalhos que terminasse consolidando uma grande carreira cinematográfica. Todavia, depois das filmagens de “O Urso” –um projeto complicado que tomou quase dez anos de trabalho e deve ter exaurido muito da força criativa de seu realizador –não foi bem isso que aconteceu.
Os anos 1990 chegaram sem que Annaud entregasse obras à altura de seu início espetacularmente promissor.
Uma prova disso é este “O Amante”.
Estrelado pela belíssima e jovem estreante Jane March (cuja entrega nas cenas de sexo é, com freqüência, um dos pontos altos do filme) e pelo ator chinês Tony Leung (de “O Trem de Zhou Yu” –não confundir com o hoje célebre ator chinês de mesmo nome, Tony Leung, que estrelou “Amor À Florda Pele” e “2046-Os Segredos do Amor”, este é outro intérprete!), a produção requintada, como é de praxe do diretor Annaud, parece ter por prioridade enfatizar o aspecto erótico da trama que, quando deixa as quatro paredes onde se dão as seqüências quase explícitas de nudez e sexo, pouco tem a oferecer em termos de dramaturgia.
A Saigon da década de 1930 –maravilhosamente reproduzida na direção de arte –é o cenário onde desenrola-se a história de uma adolescente de descendência francesa; e tal protagonista, preservada sempre anônima no roteiro (ainda que pertença a ela a narrativa em off em primeira pessoa, na voz de Jeanne Moreau) assim como sua vida, encontra relações estreitíssimas com a própria Marguerite Duras, que viveu a adolescência no Vietnam em condições muito similares às narradas aqui, o que levou muitos à imaginarem que, apesar desta ser uma obra declaradamente ficcional, muitos dos eventos remeteriam à vida da própria autora.
Essa jovem (March, hipnotizando a câmera) vive às voltas com uma tumultuada rotina familiar: O irmão mais velho, preferido de sua quase catatônica mãe, rouba-lhes o pouco de dinheiro que têm a fim de gastar em ópio, e tiraniza ela e seu irmão mais novo.
A desolação encontra um hiato quando ela vai para a cidade onde fica períodos inteiros no internato colegial da região, que a recebe a fim de garantir a presença de estudantes brancas em suas instalações. É numa dessas idas e vindas que ela conhece um hedônico milionário chinês (Leung, uma presença pouco marcante) com quem se inicia sexualmente.
Embora seus diálogos niilistas deixem claro que ambos procuram retirar qualquer envolvimento amoroso fora da equação, eles se encontram sucessivamente no mesmo quarto de hotel, rotina possível devido ao dinheiro que ele tem o pai, com o qual paga dívidas da mãe e do irmão dela.
Somente quando a data do casamento arranjado dele se aproxima é que o amor, que fingiam não existir, começa a transparecer, revestindo de angústia a separação iminente.
Baseado assim nessa obra de Marguerite Duras, o filme afastou-se tanto de uma proposta genuína presente do livro e de sua fidelidade autoral, que a própria autora resolveu, mais tarde, escrever pessoalmente um roteiro para cinema numa adaptação que julgasse apropriada, ainda que tal roteiro (depois até mesmo publicado!) jamais tenha sido filmado: “O Amante da China do Norte”.
Quanto à linda atriz Jane March, a repercussão deste filme –que foi até bastante intensa nos idos de 1992 –esmagou as expectativas de sua carreira e fez com que ela se restringisse aos filmes com essa orientação meio erótica: O único título de maior expressão em sua filmografia, além deste daqui é o thriller erótico, filmado logo depois, com Bruce Willis, “A Cor da Noite”.

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