Jean-Jacques Annaud realizou dois dos mais
marcantes filmes dos anos 1980, “A Guerra do Fogo” e “O Nome da Rosa”, e por
isso mesmo, esperava-se dele uma seqüência de trabalhos que terminasse
consolidando uma grande carreira cinematográfica. Todavia, depois das filmagens
de “O Urso” –um projeto complicado que tomou quase dez anos de trabalho e deve
ter exaurido muito da força criativa de seu realizador –não foi bem isso que
aconteceu.
Os anos 1990 chegaram sem que Annaud entregasse
obras à altura de seu início espetacularmente promissor.
Uma prova disso é este “O Amante”.
Estrelado pela belíssima e jovem estreante Jane
March (cuja entrega nas cenas de sexo é, com freqüência, um dos pontos altos do
filme) e pelo ator chinês Tony Leung (de “O Trem de Zhou Yu” –não confundir com
o hoje célebre ator chinês de mesmo nome, Tony Leung, que estrelou “Amor À Florda Pele” e “2046-Os Segredos do Amor”, este é outro intérprete!), a produção
requintada, como é de praxe do diretor Annaud, parece ter por prioridade
enfatizar o aspecto erótico da trama que, quando deixa as quatro paredes onde
se dão as seqüências quase explícitas de nudez e sexo, pouco tem a oferecer em
termos de dramaturgia.
A Saigon da década de 1930 –maravilhosamente
reproduzida na direção de arte –é o cenário onde desenrola-se a história de uma
adolescente de descendência francesa; e tal protagonista, preservada sempre anônima
no roteiro (ainda que pertença a ela a narrativa em off em primeira pessoa, na
voz de Jeanne Moreau) assim como sua vida, encontra relações estreitíssimas com
a própria Marguerite Duras, que viveu a adolescência no Vietnam em condições
muito similares às narradas aqui, o que levou muitos à imaginarem que, apesar
desta ser uma obra declaradamente ficcional, muitos dos eventos remeteriam à
vida da própria autora.
Essa jovem (March, hipnotizando a câmera) vive
às voltas com uma tumultuada rotina familiar: O irmão mais velho, preferido de
sua quase catatônica mãe, rouba-lhes o pouco de dinheiro que têm a fim de
gastar em ópio, e tiraniza ela e seu irmão mais novo.
A desolação encontra um hiato quando ela vai
para a cidade onde fica períodos inteiros no internato colegial da região, que
a recebe a fim de garantir a presença de estudantes brancas em suas instalações.
É numa dessas idas e vindas que ela conhece um hedônico milionário chinês
(Leung, uma presença pouco marcante) com quem se inicia sexualmente.
Embora seus diálogos niilistas deixem claro que
ambos procuram retirar qualquer envolvimento amoroso fora da equação, eles se
encontram sucessivamente no mesmo quarto de hotel, rotina possível devido ao
dinheiro que ele tem o pai, com o qual paga dívidas da mãe e do irmão dela.
Somente quando a data do casamento arranjado
dele se aproxima é que o amor, que fingiam não existir, começa a transparecer,
revestindo de angústia a separação iminente.
Baseado assim nessa obra de Marguerite Duras, o
filme afastou-se tanto de uma proposta genuína presente do livro e de sua
fidelidade autoral, que a própria autora resolveu, mais tarde, escrever
pessoalmente um roteiro para cinema numa adaptação que julgasse apropriada,
ainda que tal roteiro (depois até mesmo publicado!) jamais tenha sido filmado:
“O Amante da China do Norte”.
Quanto à linda atriz Jane
March, a repercussão deste filme –que foi até bastante intensa nos idos de 1992
–esmagou as expectativas de sua carreira e fez com que ela se restringisse aos
filmes com essa orientação meio erótica: O único título de maior expressão em
sua filmografia, além deste daqui é o thriller erótico, filmado logo depois,
com Bruce Willis, “A Cor da Noite”.
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