Quando dirigiu o remake de “O Chamado”, em 2002,
Gore Verbinski estava ainda no princípio da caminhada que viria a percorrer em
Hollywood. De lá para cá, ele firmou-se como um de seus mais reconhecidos
artesãos com a primeira trilogia de “Piratas do Caribe”, ganhou um Oscar de
Melhor Longa de Animação por “Rango” e retomou a parceria com o astro Johnny
Depp em “O Cavaleiro Solitário”.
Este seu trabalho, “A Cura” não pode ser visto
como um retorno às mesmas características de filme de terror de “O Chamado”,
até porque se trata de um tipo bastante diferente de filme –e o próprio
Verbinski é, hoje, um tipo bastante diferente de diretor em relação ao que ele
era naquela época: “O Chamado” foi, quando muito, um trabalho encomendado por
estúdio, além de uma refilmagem de um longa japonês já existente; “A Cura”, por
outro lado, é quase um terror gótico que guarda inúmeros elementos autorais.
O jovem e ambicioso Lockhart (Dane Dehhaan,
competente) recebe uma missão com algo de ilícita dos chefões da empresa na qual
almeja prosperar: Trazer de volta da clínica em que se internou Pembroke (Harry
Groener), um executivo sênior fundamental às iminentes transações que serão
realizadas. A tal clínica, localizada num vilarejo remoto da Europa, parece em
princípio ser um centro de terapias alternativas que prega a purificação pela água,
ambientada num cenário requintado e opressivo, embora logo fiquem claros
elementos bastante macabros a pairar por sua atmofera.
Lockhart –que nos dias que se seguem perde
constantemente Pembroke de vista, o quê o obriga, junto de um acidente, a ficar
pelo lugar –começa a perceber que a sombria história pelo qual é conhecido o
castelo onde a clínica está instalada (reza a lenda que um antigo aristocrata tentou
purificar o sangue da família tendo relações com a própria irmã, terminando
queimado numa fogueira por aldeões) tem ramificações que interferem na existência
da própria clínica em si, e parecem ter relações diretas com o diretor-chefe
Volmer (o ótimo Jason Isaacs, um ator talhado para papéis de vilão) e com a
intrigante Hanna (a estranhamente bela Mia Goth, de “Ninfomaníaca Vol. 2”), a
mais jovem paciente do lugar que aparentemente guarda um grande segredo.
Como tornou-se habitual nos filmes de
Verbinski, o visual mostra-se impecável em detrimento da trama, bastante
oscilante e frágil, embora até mesmo isso pareça ir de encontro às opções estilísticas
adotadas por ele aqui –é, afinal, uma das máximas do terror gótico, propagado
por mestres como Mario Bava, de que a plausibilidade pode se sobrepor ao
charme!
Mesmo diante desse
argumento é nítido o quanto o excesso de estilo esmaga o pouco de conteúdo, por
mais que as extensas duas horas e vinte e cinco minutos de duração estejam ali
aparentemente para favorecer a história –o quê infelizmente termina não
acontecendo.
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