As escolhas formais do diretor polonês Jerzy
Kawalerowicz impressionam já desde o início: Em enquadramentos opressivos,
justapostos em cenários áridos de espaço aberto e frio, ele faz lembrar um
Michael Haneke com a tensão que consegue gerar por meio da aridez de um só
take.
É assim, sufocando o expectador com uma agonia
indefinível, que ele começa a história de um devotado padre (Mieczyslaw Voit)
levado à uma aldeia remota pela urgência de um caso que outros exorcistas
despachados pela Igreja não foram capazes de resolver.
As freiras do convento local estão à beira da
histeria. Uma delas, sua Madre Superiora (Lucyna Winnicka, perfeita no papel),
apresenta sinais evidentes de possessão: Tem transtornos de ordem bipolar,
surtos quase psicóticos, rompantes de fúria repentina e comportamentos
imprevisíveis que em geral chocam os demais crédulos à sua volta.
Pelo menos um sacerdote já sucumbiu ao mesmo
mal que lhe aflige –e tão grave foi a recaída que terminou queimado em uma
fogueira.
O padre não parece de todo convencido: Sua
primeira reação é procurar explicações plausíveis para o que se sucedeu e, na
medida do possível, reprimir o temor generalizado que contamina pouco a pouco
todos os membros da aldeia.
Entretanto, como um hábil diretor de filmes de
terror (embora este, a rigor, não seja um filme de terror na definição
convencional do termo) Kawalerowicz irá minar essa lucidez de certeza que o
protagonista leva consigo –e paralelamente, também a do expectador.
As inserções sobrenaturais são empregadas com
economia, sem que nada seja revelado, o quê abre espaço para diversas
interpretações –como a possibilidade de uma histeria coletiva, sobretudo,
quando os acontecimentos alcançam um nível atroz de fatalismo sem, no entanto,
jamais soar implausível.
Tão autêntica é sua encenação, tão poderosamente
provida de verdade cartesiana e táctil ela é que justamente daí brota a
verdadeira estrutura de seu medo: Das crenças inadmissíveis que temos (e que
habitam as áreas mais obscuras de nosso pensamento), mas em geral evitamos e
negamos a nós mesmos.
Não é nem um pouco à toa,
portanto, que “Madre Joana dos Anjos” ao lado do igualmente poderoso e
ultrajante “Os Demônios”, de Ken Russel, seja uma das influências fundamentais
que William Friedkin usou para compor sua obra-prima “O Exorcista”.
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