quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Dia de Treinamento

A avidez com que o tira principiante –vivido com entusiasmo real por Ethan Hawke –começa seu primeiro dia nas ruas não tardará a encontrar algum freio no traquejo vivido e na experiência algo inicialmente rabugenta de seu superior –vivido com brilhantismo por Denzel Washington. São dois personagens que a narrativa do diretor Antoine Fuqua colocará em contraponto constante, enfatizando o fato de que serão antagonistas iminentes. Se há alguma surpresa nos desdobramentos dessa premissa tão simples, isso se deve ao mérito da atuação de Washington e sua capacidade de ir do céu ao inferno em poucos segundos de performance.
Ao longo das tumultuadas vinte e quatro horas de seu turno, Harris (o personagem de Washington) repete com insistência que ensinará à Hoyt (personagem de Hawke) os meandros práticos da rotina policial, o quê inclui pouco ortodoxas atitudes dele como instrutor.
Tira veterano acostumado à malandragem que prevalece nas ruas e já bastante entendido dos meandros corruptos do sistema, Harris possui um discurso na ponta da língua –tão mais convincente e elegante quando é Denzel Washington quem o diz –acerca da diferença imprevisível e circunstancial entre a teoria aprendida na academia e a prática que se adquire nas ruas: Eles não vão, em momento algum para uma delegacia ou um QG, usando como “escritório” o interior de seu veículo; em dado momento, Harris coage Hoyt a fumar um baseado sob o argumento de que, para enfrentar os traficantes e viciados que infestam os bairros que têm de patrulhar, ele deve conhecer a fundo os efeitos da droga.
A despeito dessas inesperadas orientações, o rapaz tenta manter-se incorruptível, mas o tira mais velho tem um dia inteiro para convencê-lo de que, se quer ser um bom e eficiente policial, deve recorrer a muitos meios ilícitos para chegar na solução de alguns problemas.
Há, contudo, desde o princípio, um elemento algo sombrio em Harris, e embora o ótimo Denzel Washington seja hábil em contornar com seu charme esse detalhe nítido aos olhos do personagem de Ethan Hawke e do expectador durante a maior parte do tempo, essa faceta sombria se manifesta a partir do último terço de filme, quando infelizmente o trabalho simples e básico, porém, eficiente e objetivo de Antoine Fuqua começa a dar lugar a uma conclusão na qual ele abraça a redundância de um policial de ação inclinado ao conformismo de gênero, e à simplificação dos estereótipos de mocinho e vilão.
Até então, era um filme arrasador!
Responsável certamente pela valorização do material a interpretação convincente de Denzel Washington surpreendeu ao conquistar o Oscar de Melhor Ator em 2001, superando o favoritíssimo Russel Crowe por "Uma Mente Brilhante".

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