A avidez com que o tira principiante –vivido
com entusiasmo real por Ethan Hawke –começa seu primeiro dia nas ruas não
tardará a encontrar algum freio no traquejo vivido e na experiência algo
inicialmente rabugenta de seu superior –vivido com brilhantismo por Denzel
Washington. São dois personagens que a narrativa do diretor Antoine Fuqua
colocará em contraponto constante, enfatizando o fato de que serão antagonistas
iminentes. Se há alguma surpresa nos desdobramentos dessa premissa tão simples,
isso se deve ao mérito da atuação de Washington e sua capacidade de ir do céu
ao inferno em poucos segundos de performance.
Ao longo das tumultuadas vinte e quatro horas
de seu turno, Harris (o personagem de Washington) repete com insistência que
ensinará à Hoyt (personagem de Hawke) os meandros práticos da rotina policial,
o quê inclui pouco ortodoxas atitudes dele como instrutor.
Tira veterano acostumado à malandragem que
prevalece nas ruas e já bastante entendido dos meandros corruptos do sistema,
Harris possui um discurso na ponta da língua –tão mais convincente e elegante
quando é Denzel Washington quem o diz –acerca da diferença imprevisível e
circunstancial entre a teoria aprendida na academia e a prática que se adquire
nas ruas: Eles não vão, em momento algum para uma delegacia ou um QG, usando
como “escritório” o interior de seu veículo; em dado momento, Harris coage Hoyt
a fumar um baseado sob o argumento de que, para enfrentar os traficantes e
viciados que infestam os bairros que têm de patrulhar, ele deve conhecer a
fundo os efeitos da droga.
A despeito dessas inesperadas orientações, o
rapaz tenta manter-se incorruptível, mas o tira mais velho tem um dia inteiro
para convencê-lo de que, se quer ser um bom e eficiente policial, deve recorrer
a muitos meios ilícitos para chegar na solução de alguns problemas.
Há, contudo, desde o princípio, um elemento
algo sombrio em Harris, e embora o ótimo Denzel Washington seja hábil em
contornar com seu charme esse detalhe nítido aos olhos do personagem de Ethan
Hawke e do expectador durante a maior parte do tempo, essa faceta sombria se
manifesta a partir do último terço de filme, quando infelizmente o trabalho
simples e básico, porém, eficiente e objetivo de Antoine Fuqua começa a dar
lugar a uma conclusão na qual ele abraça a redundância de um policial de ação
inclinado ao conformismo de gênero, e à simplificação dos estereótipos de
mocinho e vilão.
Até então, era um filme arrasador!
Responsável certamente pela
valorização do material a interpretação convincente de Denzel Washington
surpreendeu ao conquistar o Oscar de Melhor Ator em 2001, superando o
favoritíssimo Russel Crowe por "Uma Mente Brilhante".
Nenhum comentário:
Postar um comentário