A atriz Kristin Scott-Thomas construiu uma
carreira desigual devido à trajetória inusitada que teve: No início, seu
considerável talento aliado a uma beleza das mais atípicas pareciam destiná-la
a ser a eterna coadjuvante em trabalhos como “Lua de Fel”, “Quatro Casamentos e
Um Funeral”, “Ricardo III”, “Anjos e Insetos” e “Missão Impossível”. Uma virada
ocorreu, ainda na metade dos anos 1990, com uma indicação ao Oscar de Melhor
Atriz por “O Paciente Inglês”; de repente, Kristin tinha um status de estrela
inédito em sua carreira. Seguiram-se papéis em produções hollywoodianas ao lado
de galãs maduros como “O Encantador de Cavalos” (com Robert Redford, dirigindo
inclusive) e “Destinos Cruzados” (com Harrison Ford) alternados com projetos
sérios, elitistas até, como “Assassinato em Gosford Park”.
É perceptível que, com o passar do tempo,
Kristin deixou de lado o cinema mainstream para se concentrar em obras mais
alternativas, oriundas muitas vezes da Europa –prova disso é a quantidade baixa
de filmes seus que chegaram a ser lançados no Brasil.
Uma atriz interessante que soube como continuar
interessante.
Dentre os filmes estrelados por ela na última
década, se destacam aqueles que ela fez em parceira com o diretor Philippe
Claudel.
“Há Tanto Tempo Que Te Amo” –que foi indicado
ao Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro e deu a Kristin uma indicação de
Melhor Atriz Dramática –surpreende de imediato ao mostrá-la falando um francês
fluente e expressando muito bem, nesse outro idioma, as sutilezas dramáticas
que a definem como atriz.
Quando o filme começa, Juliette, sua
personagem, aguarda num aeroporto. Há uma expressão de desalento em seu rosto
–não é mera impressão: Essa expressão sempre a acompanha.
Juliette voltou ao convívio com a irmã Léa
(Elsa Zylberstein, até bem parecida com Kristin) que não via há anos. Léa se
esforça para superar o desconforto de ambas não se conhecerem tão bem para
fazer com que Juliette se sinta em casa. Léa mora com o marido Luc (Serge
Hazanavicius), com as duas pequenas filhas adotadas e com o sogro, que um AVC
emudeceu.
São as dúbias impressões de Juliette e Léa
acerca uma da outra, porém, que a câmera intimista de Claudel quer capturar de
verdade. Tais impressões vão se refletir na dinâmica da relação dela com as
crianças e com o marido, mas acima de tudo, na dúvida que aos poucos a
narrativa vai impor ao expectador: Mas, afinal, o que aconteceu no passado de
Juliette?
As respostas dessa e de outras questões chegam
aos poucos intercaladas por uma condução serena e parcimoniosa, dispersa o
suficiente para dar devidamente tempo ao expectador para absorver as
informações (algumas um bocado contundentes) que chegam.
Trata-se de um drama
doméstico, de ambientação e vibração cotidiana, mas bem executado e bem
interpretado, atento aos pequenos detalhes que a encenação vislumbra de forma
tão sublime –e, por meio deles, Claudel também captura a metamorfose de
Juliette, da pessoa amargurada e isolada da cena inicial, a alguém mais
afetuosa e familiar.
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