Dos poucos contos de fadas clássicos –talvez, o
único! –ainda não adaptado nas festejadas animações dos Estúdios Disney,
“Rapunzel”, ao ver chegada sua vez, veio num período de tal transição para o
estúdio que o resultado final, este “Enrolados” –que sequer se vale do título
original do conto –acabou sendo completamente diferente das animações
anteriores protagonizadas por outras princesas, como “Branca de Neve e Os Sete
Anões”, “Cinderella”, “A Bela Adormecida”, “A Pequena Sereia” e “A Bela e A
Fera”.
Em meados de 2010, a Disney já havia percebido
que a animação tradicional estava fadada a ser substituída irreversivelmente
pela computação gráfica: Prova disso foi o fracasso de bilheteria de “Nem Que A
Vaca Tussa”, em 2005, e a recepção morna de “A Princesa e O Sapo”, em 2009
–entre os dois, note bem, nem um único longa-metragem animado lançado nos
cinemas!
A estratégia da Disney –cujo departamento de
animação passou a ser chefiado por John Lasseter, o presidente da Pixar –foi
abraçar seu legado (as histórias de princesas e a atualização dos contos de
fadas), mas com um olhar voltado ao futuro; combinação que fez de “Enrolados” a
primeira animação da Disney, nos mesmos moldes tradicionais de suas obras
aclamadas, concebida inteiramente em CG; caminho este que levou, em 2013, à
consagração junto ao público e à crítica, de “Frozen-Uma Aventura Congelante”.
Era inicialmente estranho ver o traço que
mostrou Branca de Neve ou Ariel ganhar o realismo mais táctil da computação,
porém os realizadores compreenderam que este era um caminho inevitável.
Uma flor mágica salva a vida de uma rainha e do
bebê que ela esperava, a pequena princesa Rapunzel, e suas curativas
propriedades mágicas acabam transferidas para o cabelo da criança, que por sua
vez é raptada por uma velha bruxa.
Deixada numa torre alta pela bruxa, para que
esta pudesse usufruir a magia para permanecer jovem e bela para sempre,
Rapunzel se torna, dezoito anos depois, uma moça de cabelos quilométricos.
Embora acredite que a bruxa (autoritária e
prepotente) seja sua mãe, Rapunzel, como toda jovem, está ansiosa para
descobrir o mundo além da torre, apesar das contundentes tentativas de sua
tutora em reprimir-lhe tais anseios.
Mas, algo dentro de Rapunzel diz que as
lanternas que se acendem toda noite no dia de seu aniversário querem dizer-lhe
alguma coisa (é, na verdade, uma tradição instituída por seu pai e sua mãe, que
nunca perderam as esperanças de encontrá-la), e decide que já é a hora de
conhecer o mundo. No que pode ser auxiliada pela aparição de Flynn, um ladrão
com encrencas até o pescoço e malandro sedutor, que por acaso acaba
escondendo-se dos guardas na torre em que Rapunzel viveu toda a vida.
Plenamente dispostos a manter seu estilo na
animação nesses novos tempos digitais, os estúdios Disney recriam o clássico conto
de fadas de “Rapunzel” com doses generosas de humor, os habituais números
musicais, ora estridentes, ora emocionantes, e elementos que refletem seu
próprio tempo, para o bem e para o mal (fruto dos ensinamentos de Lasseter, o
roteiro é visivelmente mais elaborado e nada simplista com relação à construção
de seus personagens; e, numa cena específica –o fim, quando as lágrimas de
Rapunzel restauram a integridade física dos ferimentos de seu príncipe –podemos
ver a tendência da Disney em suavizar os elementos mais atrozes dos contos
originais).
Esse esforço pode não
ajudar “Enrolados” a obter a mesma profundidade e refinamento dos elogiados
longas animados da Pixar, mas ainda assim ele certamente está entre seus
melhores trabalhos em animação dos últimos anos.
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