sexta-feira, 20 de julho de 2018

Os Estranhos


Um carro está parado à beira da estrada. Há uma atmosfera de tristeza, de ressentimento no ar. Assim se inicia o filme do diretor Bryan Bertino, atento às nuances dramáticas.
É, pois, a esse novo rótulo de pós-terror que suas escolhas parecem apontar: Um filme de terror definido e potencializado pelas caracterizações de ordem psicológica que recebem os personagens, e por isso mesmo contundente na tensão e na violência que porventura desencadeia.
E, supostamente inspirado em fatos reais, a violência que ele desencadeia busca pela aflição do expectador; esta é uma obra sufocante, quase nos moldes de “Violência Gratuita”, de Michael Haneke.
Afinal, o casal que se encontra dentro daquele carro, Kristen (Liv Tyler) e James (Scott Speedman), tendo saído do que parece ter sido uma festa; e sofrido um desentendimento pelo que parece ter sido um pedido de casamento que ela recusou, vão à casa de campo do pai do rapaz.
Lá, na densa quietude interiorana e providencialmente longe de tudo eles serão abordados por pessoas não identificadas –vestidas com ameaçadoras máscaras brancas –que ao longo da interminável noite os amedrontarão e aparentam, sem qualquer motivo, querer fazer-lhes mal.
Há um investimento particularmente intenso que a narrativa faz na aflição, gerada tanto pela frustração constante dos protagonistas se descobrirem paulatinamente incapazes de se manter seguros, como pela displicência quase aleatória que os psicopatas anônimos (não só desprovidos de rosto e identidade, mas também de uma história/origem e de um propósito) usam para deflagrar sua sanha assassina –num dado momento, eles perguntam “por quê” diante de todo o tormento persecutório que compõe o filme, e a resposta não poderia ser mais banal (e, por isso mesmo, desconcertante): “Porque vocês estavam em casa”.
Por essa postura, pela frieza glacial de uma condução que leva à desolação do público (embora ainda assim seja muito mais leve do que certas obras européias dessa mesma natureza lançadas por aqueles tempos), é um filme particularmente assustador, amparando o clima e atmosfera na própria simplicidade da situação, e da aterradora sensação de estar sendo espionado sem poder ver quem o espiona.

Nenhum comentário:

Postar um comentário