Na década de 1980, o dramaturgo e roteirista
John Patrick Shanley, depois do Oscar por “Feitiço da Lua”, tentou se
auto-promover e virar um desses ‘autores-estrelas’, cujas obras guardavam uma
espécie de marca –daí vieram trabalhos (alguns inclusive também dirigidos por
ele) como a estranha aventura “Joe Contra O Vulcão” e a mais estranha ainda
mescla de policial, drama e comédia “O Calendário da Morte”.
Já, em meados da década de 1990, quando essa
tentativa de se sagrar como autor já não tinha dado muito certo, ele entregou
este roteiro, bem mais austero que esses outros citados, em parte, também, pela
solene abordagem de um fato real: “Vivos” reconstitui a verídica história na
qual uma equipe uruguaia de rugby tem seu avião avariado na cordilheira dos
Andes.
Esse acidente aéreo, que inicia o filme –cujo
acabamento técnico, ostensivo no que tange aos efeitos digitais da época, já
busca superar a versão cinematográfica anterior “Os Sobreviventes dos Andes”,
de 1976 –logo é precedido pelo habitual drama pós-catástrofe do qual filmes de
náufragos ou de sobreviventes em geral se sustentam: Os dias que se seguem
amplificam a angústia, ressaltada pela presença dos cadáveres daqueles que
morreram no acidente, ou mesmo dos feridos e moribundos que foram perdendo a
vida depois. Não há comida (o quê dá à perspectiva de vida um curto e alarmante
prazo), não há aquecimento e o frio é extremo (impedindo até mesmo a decomposição
dos mortos).
A espera por resgate se estende indefinidamente
–eles avistaram um avião sobrevoando os picos e tiveram a impressão de terem
sido vistos –porém, os meses se passam sem que qualquer ajuda apareça.
Quando a fome e a inanição ameaçam começar a
matar aqueles que não morreram pelo acidente, pelos ferimentos e pelo frio, o
jogador Nando Parrado (Ethan Hawke) tem a controversa idéia de usarem os corpos
mortos (empilhados ao lado da carcaça do avião) para se alimentar. Trocando em
miúdos: Praticar canibalismo para não morrer.
Sem grandes arroubos inventivos, o diretor
Frank Marshall (produtor que já havia se aventura na direção em “Aracnofobia”)
tenta dar um viés excessivamente comercial e acessível ao filme; as cenas de
canibalismo, por exemplo, são quase um caso de bipolaridade narrativa: Ao mesmo
tempo querem passar uma atmosfera de despojamento e naturalismo, e ser um
registro asséptico que não machuque a sensibilidade do expectador.
É essa indefinição –mantida do início ao fim
–que impede “Vivos” de ser uma obra realmente marcante.
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