Nos créditos iniciais coloridos e animados, nas
músicas que tocam no início e no final e até mesmo na natureza sugestiva de seu
título original, “Superbad” já deixa clara a referência à blaxploitation que
estranhamente o domina.
É curiosa essa opção do diretor Greg Mottola,
já que, na superfície, uma coisa nada tem a ver com a outra.
Lançado praticamente junto com “Ligeiramente
Grávidos” e “O Virgem de 40 Anos” –filmes que serviram como uma espécie de
revelação para Judd Apatow, sua equipe e seu astro, Seth Rogen –“Superbad” foi
tomado pela crítica erroneamente como um outro exemplar do humor de Apatow.
Ledo engano: Embora assuma a produção deste
trabalho, o humor bem mais ácido e anárquico de “Superbad” espelha muito mais o
estilo do próprio Seth Rogen (que assume as funções de roteirista –a trama é
parcialmente inspirada num episódio de sua própria juventude –de produtor
executivo e ainda atua num dos papéis coadjuvantes).
Com efeito, os dois jovens protagonistas são
Seth e Evan (Evan Golberg, também roteirista e produtor executivo do filme).
Interpretados respectivamente por Jonah Hill e
Michael Cera (o primeiro um pouco irritante, o segundo ligeiramente disperso),
eles são dois adolescentes às voltas com os dilemas juvenis dos últimos dias de
ensino médio: Querem por que querem ter suas primeiras experiências sexuais; aí
então, poderão orgulhar-se de não ter chegado virgens na faculdade (!).
A oportunidade dos sonhos, para ambos, parece
surgir na festa ocorrida na casa de Jules (Emma Stone, num de seus primeiros
papéis no cinema) –afinal, Seth há algum tempo tem interesse nela; assim como
Evan na amiga dela, Becca (Martha MacIsaac).
Durante a festa, eles poderão embebedá-las e,
com isso, ter o quê querem.
Detalhe importante: Seth e Evan são incumbidos
por Jules de levar as tais bebidas alcoólicas para a festa. E, sendo todo esse
pessoal menor de idade, a única maneira de obter essas bebidas é usando a
identidade falsa de Fogell (Christopher Mintz-Plasse, de “Kick Ass”, no personagem
que praticamente o tornou objeto de culto), segundo a qual ele tem o ostensivo
nome de ‘McLovin’ (!).
Dessa forma, lá vão Seth, Evan e McLovin atrás
das bebidas, numa missão que inicialmente parece simples, mas que os
expedientes tão comuns às comédias tornarão movediça e recheada de confusões: A
loja de conveniência é assaltada durante a compra e os policias chamados para a
ocorrência (Bill Hader e o próprio Rogen, impagáveis), imaturos e enrolados, só
complicam ainda mais as coisas para o perplexo McLovin.
Enquanto isso, Seth e Evan acabam indo à uma
outra festa, essa promovida e comparecida por adultos, de onde têm a arriscada
idéia de levar as bebidas.
Na elaboração das situações que remetem até a
uma agridoce nostalgia, não obstante o teor de besteirol e os impropérios
abundantes, “Superbad” remete à um tipo de comédia muito comum nos anos 1980,
embora suas referências cinematográficas mais paulatinas sejam mesmo, como
dito, os blaxploitation dos anos 1970 –e no fim, ele não esconda o fato de ambientar-se,
afinal, nos anos 2000; como atestam os usos de celulares em cena.
É um caldeirão de influências anacrônicas que
Greg Mottola faz para dali extrair um novo tipo de comédia: No desfecho, quando
as situações parecem seguir um rumo normal e certamente previsível, o roteiro
de Rogen e Goldberg agrega um inesperado viés humano e afetivo.
As garotas, Jules e Becca, não são, afinal,
conquistas sem importância e, por isso, os detalhes mais picantes e sexuais de
seu flerte são deixados de lado pela narrativa.
Assim como a amizade entre Seth e Evan é
colocada num curioso outro prisma no trecho final –que pode ser visto como
engraçado por alguns expectadores, ou até absurdo por outros –eis aí, porém, um
detalhe bastante comum que se observa no trabalho de Rogen: A ênfase na genuína
e amorosa amizade que pode surgir entre os homens.
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