quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

A Morte Sorriu Para O Assassino


Sempre na tentativa de agregar seu nome a uma produção de respeito, o diretor italiano Joe D’Amato promoveu uma fusão de vertentes cinematográficas predominantes no período de 1973, como o giallo, o terror gótico e o exploitation (do qual foi um especialista) na busca por um todo eficiente e elegante.
O filme –cuja premissa se vale de expedientes que a todo momento enganam o expectador em seu primeiro terço –começa com o personagem de Franz (Luciano Rossi), um irmão a lamentar a morte da irmã com quem claramente tinha uma relação incestuosa.
Suas juras de vingança levam a crer que será este o mote do filme.
Entretanto, uma montagem não linear e deliberadamente enigmática arremessa a trama noutra direção, ao mesmo tempo que parece gradativamente deixar de lado aquele personagem (o do irmão): Greta (Ewa Aulin), pouco depois de aparecer junto de um companheiro (vivido por Giacomo Rossi-Stuart), é vista num acidente de carruagem.
Encontrada pelo casal Walter e Eva Von Ravensbrück (Sergio Doria e Angela Bo) e examinada pelo médico Dr. Sturges (Klaus Kinski), ela é diagnosticada com amnésia traumática e enquanto se recupera passa a viver na mansão do casal.
Curiosamente, Walter e Eva se apaixonam por ela. Tanto que Eva tenta matá-la, não por ciúmes do marido, mas porque Greta não deu a ela mais atenção (!).
Num trecho que remete a Edgar Allan Poe de todas as formas, Greta é emparedada num porão –numa cena com frequente aparição de gatos.
Mais tarde. Eva é atormentada por aparições de Greta –que, pelo jeito, sobreviveu –até isso leva-la à morte.
É durante o funeral de Eva que aparece o pai de Walter (e que vem a ser o mesmo personagem que surge num interlúdio romântico com Greta no início). O filme de D’Amato aparenta sinalizar algum tipo de elucidação nesse ponto, mas ela jamais chega de fato.
Ao contrário: O que parecia mirabolante e improvável antes ganha ares ainda mais intrigantes; indícios de conspiração ou de algo sobrenatural vão surgindo a medida que Greta enfileira uma morte atrás da outra, que incluem o pai de Walter, o próprio Walter, o mordomo (é sério), o irmão dela e por aí vai...
Mesclando gêneros com mais euforia do que com austeridade, mas preservando uma aura poética que se sustenta no refinamento de sua produção, o filme de D’Amato deixa o expectador com a única certeza de uma premissa inverossímil e injustificável, potencializada ainda mais pelo desfecho irônico e desconcertante.

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