Na reconstituição cheia de graça e de reflexos
condicionados de comédia da verdadeira história da criação do vibrador (!), na
qual o filme se baseia, encontra-se todas as características que tão bem
definem as relações entre homens e mulheres, vistas até hoje com imprevistas incompatibilidades,
e que sempre renderam discussões e reflexões a respeito dessas incongruências.
Acredite se quiser, são meados dos anos 1880 quando
o jovem médico Mortimer Granville (Hugh Dancy) se vê demitido de mais uma
ocupação quando tenta bater de frente com a inacreditável falta de aceitação
que a medicina de então tinha em relação à descobertas científicas que hoje
soam como óbvias –como o falta de que limpar as sujeiras de uma ferida evita as
infecções.
Colecionador de empregos breves, ele almeja
encontrar um lugar onde possa exercer a medicina com todo o idealismo e o
altruísmo com que sempre sonhou.
Não chega a ser exatamente isso que ele encontra
no consultório do Dr. Dalrymple (Jonathan Pryce). Na verdade, ele encontra um
mentor em princípio mais razoável que os anteriores, uma oportunidade para
casar bem e sem transtornos (com a prendada filha dele, a doce Emily, vivida
pela bela Felicity Jones) e uma ocupação digna.
Todavia, esse é o dado inusitado: O Dr.
Dalrymple atende mulheres, por ele e pelos demais de sua classe, diagnosticadas
com histeria. Os sintomas são vastos (desde mau-humor, passando por explosões
de raiva, até crises inexplicáveis de choro) e não se apresentam generalizados –daí
a desconfiança do sensato Granville em relação ao diagnóstico –e a recomendação
do Dr. Dalrymple é um tratamento, digamos, incomum: Um estímulo que o bom
doutor (e, no caso, também Granville que se presta a auxiliá-lo) realiza nas
partes baixas de suas clientes –e que é, mal disfarçadamente, uma espécie de
masturbação!
É uma clientela que se multiplica rapidamente e
que logo forma fila quilométrica na agenda do consultório, acarretando câimbras
dolorosas na mão do jovem médico (!).
Entre a galhofa absurda encontrada nessa
situação pouco usual (e verídica) e as intervenções da intensa segunda filha do
Dr. Dalrymple, a feminista Charlotte (Maggie Gyllenhaal), por quem aos poucos
Granville vai nutrindo mais interesse do que por Emily, o rapaz se dá conta da
eficácia que teria um aparelho elaborado justamente para tal uso; estimular as
mulheres que se enfileiram no consultório sem lesionar sua mão cansada (!).
Com a ajuda do amigo Edmund John-Smithe (Rupert
Everett), uma espécie de inventor entusiasta da nova tecnologia, a eletricidade
(!), Granville concebe um aparelho –apelidado Massageador Elétrico –que extrapola
as expectativas: Não apenas substitui com melhoras seus esforços manuais, como
também gera uma demanda por seus serviços (!).
Não tarda ao aparelho interessar fabricantes
que passam a distribui-lo para uso pessoal e fazem do Dr. Granville, um
milionário.
No entanto, nem sempre é essencialmente esse
aspecto da trama que parece interessar a narrativa: Ela se ocupa até mais do
romance relutante, claudicante e algo jocoso entre Granville e Charlotte; cujos
adjetivos exageram na caracterização dela como o protótipo da mulher
independente e idealista da época.
A diretora Tanya Wexler parece se bastar com a
singularidade da história –ligeiramente baseada na realidade –que está narrando
e não exercita maiores tentativas de inspiração ao conduzir o filme, o que logo
lhe impõe um ritmo enfadonho que ameaça cansar o expectador, a despeito dos
méritos válidos de um elenco simpático e esforçado.
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