sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

Machete


De tudo o que englobava o projeto “Grindhouse” era visto que o trailer-falso “Machete” era o que tinha mais potencial para virar um longa-metragem de fato.
Num hábito que lhe era até comum, Robert Rodriguez dividiu a direção de sua obra com Ethan Maniquis, que ocupou a função de montador em “Planeta Terror” e exerceu inúmeras outras colaborações com ele –foi, por exemplo, editor de efeitos visuais na trilogia “Pequenos Espiões” e em “Era Uma Vez No México” e ator em “Sin City”.
Pois, com seu auxílio, Rodriguez arregaçou as mangas e transformou –com sucesso discutível –a premissa que funcionava às mil maravilhas enclapsulada num trailer, em um filme de cento e cinco minutos de duração com todas as características que definiam o projeto que o próprio Rodriguez levou a cabo ao lado de Quentin Tarantino (marcas na imagem que simulam o envelhecimento da película; sangue e certa escatologia como apelo comercial; e toda atmosfera de produção B da época dos filmes-poeira).
Apelidado de Machete por sua predileção por armas brancas em detrimentos às armas de fogo, o personagem-título vivido com presença indubitável por Danny Trejo é, no prólogo que abre o filme determinando muito bem seu estilo, um agente federal no México.
Ao tentar libertar uma jovem coagida à prostituição (a deliciosa Mayra Leal que já de início, escancara sua nudez gratuita), ele cai numa cilada arquitetada pelo vilão Torrez (Steve Segal, pernicioso em sua canastrice) e termina destituído de seu cargo, com sua família assassinada e quase morto.
Anos mais tarde, Machete –agora levando a vida na fronteira dos EUA com o México –acaba contratado pelo milionário Michael Benz (Jeff Fahey) a fim de provocar um atentado contra um senador (Robert De Niro) cuja campanha se baseia na discriminação de parte da sociedade americana aos imigrantes latinos. A exemplo da cena inicial, essa também é mais uma cilada elaborada para fazer de Machete um bode expiatório que o levará a defrontar-se com Torrez outra vez.
Porém, Machete não é mais tão ingênuo e seu plano de vingança é, também ele, elaborado.
A despeito da crítica contumaz e algo rabugenta de que “Machete” de fato funcionava mais como trailer do que como longa-metragem, Robert Rodriguez exercita sua paixão pelas películas descerebradas dos anos 1970 e 80, valendo-se aqui de uma trama que se ramifica em dezenas de outros personagens, adquirindo desdobramentos inesperados conforme seu avanço –entre eles, a rasteira reflexão de denúncia sobre a imigração mexicana.
No fim das contas é pouco eficaz e até contraditório o fato de que ele dispõe de todo esse esforço para culminar num filme assumidamente sangrento, implausível e despretensioso.

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