De tudo o que englobava o projeto “Grindhouse”
era visto que o trailer-falso “Machete” era o que tinha mais potencial para
virar um longa-metragem de fato.
Num hábito que lhe era até comum, Robert
Rodriguez dividiu a direção de sua obra com Ethan Maniquis, que ocupou a função
de montador em “Planeta Terror” e exerceu inúmeras outras colaborações com ele
–foi, por exemplo, editor de efeitos visuais na trilogia “Pequenos Espiões” e
em “Era Uma Vez No México” e ator em “Sin City”.
Pois, com seu auxílio, Rodriguez arregaçou as
mangas e transformou –com sucesso discutível –a premissa que funcionava às mil
maravilhas enclapsulada num trailer, em um filme de cento e cinco minutos de
duração com todas as características que definiam o projeto que o próprio
Rodriguez levou a cabo ao lado de Quentin Tarantino (marcas na imagem que
simulam o envelhecimento da película; sangue e certa escatologia como apelo
comercial; e toda atmosfera de produção B da época dos filmes-poeira).
Apelidado de Machete por sua predileção por
armas brancas em detrimentos às armas de fogo, o personagem-título vivido com
presença indubitável por Danny Trejo é, no prólogo que abre o filme
determinando muito bem seu estilo, um agente federal no México.
Ao tentar libertar uma jovem coagida à
prostituição (a deliciosa Mayra Leal que já de início, escancara sua nudez
gratuita), ele cai numa cilada arquitetada pelo vilão Torrez (Steve Segal,
pernicioso em sua canastrice) e termina destituído de seu cargo, com sua família
assassinada e quase morto.
Anos mais tarde, Machete –agora levando a vida
na fronteira dos EUA com o México –acaba contratado pelo milionário Michael
Benz (Jeff Fahey) a fim de provocar um atentado contra um senador (Robert De
Niro) cuja campanha se baseia na discriminação de parte da sociedade americana
aos imigrantes latinos. A exemplo da cena inicial, essa também é mais uma
cilada elaborada para fazer de Machete um bode expiatório que o levará a
defrontar-se com Torrez outra vez.
Porém, Machete não é mais tão ingênuo e seu
plano de vingança é, também ele, elaborado.
A despeito da crítica contumaz e algo rabugenta
de que “Machete” de fato funcionava mais como trailer do que como
longa-metragem, Robert Rodriguez exercita sua paixão pelas películas descerebradas
dos anos 1970 e 80, valendo-se aqui de uma trama que se ramifica em dezenas de
outros personagens, adquirindo desdobramentos inesperados conforme seu avanço –entre
eles, a rasteira reflexão de denúncia sobre a imigração mexicana.
No fim das contas é pouco eficaz e até
contraditório o fato de que ele dispõe de todo esse esforço para culminar num
filme assumidamente sangrento, implausível e despretensioso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário