sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

Saindo de Uma Fria


O título nacional desta comédia adolescente aproveita malandramente o apelo do sucesso “Entrando Numa Fria” (com Ben Stiller e Robert De Niro) que trazia a mesma atriz Teri Polo no elenco.
Aqui, ela vive a deliciosa professora de literatura inglesa do protagonista Sam Leonard (Ryan Pinkston) que, recém-chegado à nova escola, enfrenta as mesmas hostilidades de sempre em sua tentativa de adaptação ao meio estudantil.
Sam se ressente do papel de fracassado que lhe parece reservado de antemão entre os novos colegas –de cara, ele é zoado pelos valentões do time de basquete, ignorado na decepcionante tentativa de conseguir um par para o baile e excluído na hora do almoço; na qual só encontra a companhia da encantadora e contestadora Annie (Kate Mara, na personagem mais clichê em meio à tantos personagens clichês).
Em um acesso de sinceridade implacável de seu conselheiro escolar, à quem Sam, num momento de desespero resolve recorrer, ele recebe a inusitada sugestão de mentir e inventar as mais desvairadas histórias a seu respeito já que a realidade não impressiona ninguém.
“Os mentirosos sempre vencem; e os vencedores sempre mentem” diz o conselheiro.
E com isso, já no outro dia, Sam distribui mentiras: Conta que era o melhor lançador no time de basquete de sua escola anterior para disfarçar sua inaptidão para o esporte; diz a todos que tem um porsche apesar de chegar de carona com o pai (John Caroll Lynch, de “Ao Vivo de Bagdá”) todos os dias na escola; aliás, por falar em pai, ele afirma ser filho de um membro da antiga banda de rock Poison (!) e que sua mãe é artista plástica (!!).
Não fica só aí: Conta que a bela professora (a própria Teri Polo) está apaixonada por ele; que seu cachorro comeu o dever de casa que foi incapaz de entregar; e que usa calções na hora de tomar banho depois das aulas de educação física para esconder dos demais alunos seu pênis descomunal (!).
Quando tudo ainda assim aparenta ir de mal a pior, algo acontece –um passe de mágica, talvez, provocado pelo espelho que se quebra: De um dia para o outro, todas as suas mentiras começam a se tornar realidade!
A bela Prof. Moran se insinua para ele. Seu cão de estimação, de fato, come seu trabalho escolar –e passa a fazê-lo toda a manhã religiosamente! E se torna realmente um ás do basquete –basta jogar aleatoriamente a bola que ela, invariavelmente, cai dentro da cesta!
Em casa, a mesma coisa. Sua mãe passa a produzir arte –o que a leva a ausentar-se de casa –e seu pai, até então doméstico e conservador, revela que realmente pertenceu à banda Poison na juventude (!), e que, ao preparar-se para um show de revival, deixa aos cuidados de Sam o seu porsche (!!!).
O status de Sam na escola sofre uma reviravolta por conta de tantas coisas inacreditáveis ocorrendo a ele, tornando-se o aluno mais popular no lugar e conquistando até mesmo a afeição da menina mais cobiçada (Amanda Walsh que nem é tão bonita assim).
Contudo, numa variação debochada de Frank Capra, ele se dá conta que a badalação pela qual tanto ansiou não traz felicidade e, para ter sua vida como era antes, ele tem que separar o joio do trigo –ou melhor, a mentira da verdade.
É um viés moralista inusitado em tanta tiração de sarro da qual consiste este gênero de comédia, mas acaba até fazendo sentido neste filme mais eficiente e bem realizado do que pode parecer.

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