sexta-feira, 5 de abril de 2019

Sintomas

A julgar por esta bela realização de suspense e terror, o diretor José Ramon Larraz, de “As Filhas de Drácula”, gosta de desenvolver conceitos macabros em ambientações campestres –e, em sua predisposição, ele filma takes formidáveis e imersivos, mostrando a beleza singela dos riachos e bosques; não deixando de observar neles uma atmosfera sinistra que convém ao seu trabalho.
Na trama pouco elusiva que ele explora temos duas amigas a chegar numa casa de campo; palco para todo o intrigante filme que se sucederá.
A proprietária é a catatônica Helen (Angela Pleasence) cuja instabilidade –por razões nunca evidenciadas –confere a ela uma aura de fragilidade.
Sua amiga e convidada é Anne (Lorna Heilbron) que ao assumir com alguma vaidade o papel de pilar estrutural para a amiga encara toda a convicção e reafirmação de si mesma que pode ostentar.
Munido de bela fotografia e de expressiva trilha sonora, Larraz faz a partir desse pouco um trabalho atmosférico e sensorial, um tanto dissonante do que andava se fazendo naqueles idos dos anos 1970 –daí seu brilhantismo e sua singularidade.
Pois, na aridez possivelmente proposital de seu plot, o filme consegue esclarecer ao expectador que é uma obra de terror sem expor quaisquer expedientes do gênero com muita clareza em sua primeira hora –salvo, certamente, o prólogo, tão rápido e estranhamente discordante de todo o filme que vem depois, que não tardamos a dele nos esquecer; todavia, mais a frente, ele será explicado, reiterado e complementado.
Belo em seu acabamento, certamente fragmentado na narrativa manhosa que se propõe, e omisso na opinião dos expectadores mais impacientes –este é daqueles filmes que cabe ao expectador preencher as vastas lacunas da história e dos personagens –“Sintomas” é um trabalho desafiador, autoral e hipnótico.

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