segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

São Francisco - A Cidade do Pecado

De “Titanic” a “Pearl Harbor” passando por “Terremoto” e “O Dia Em Que O Mundo Acabou”, a fórmula de um drama entrelaçado à uma catástrofe culminante não é nada novo no cinema.
Uma das primeiras experiências narrativas nesse sentido, este “São Francisco-A Cidade do Pecado”, data de 1936.
Precedendo em alguns meses o famoso terremoto que quase devastou a cidade em 1906, o filme dirigido com notável competência por W.S. Van Dyke II acompanha o dia-a-dia no clube noturno de Blakie Norton (o astro Clark Gable) que logo de cara encanta-se pela formosura e talento da recém-contratada cantora da casa, Mary Blake (Jeanette MacDonald, genuinamente apaixonante).
Há uma paixão que se ensaia entre os dois, mas que logo encontra barreiras inerentes à ficção hollywoodiana; sobretudo, quando ameaça se tornar um triângulo amoroso: Com seu talento e beleza visíveis, Mary atrai a atenção e o coração do candidato à prefeitura Jack Burley (Jack Hold, de “O Tesouro de Sierra Madre”), dono também do Teatro Tivoli, no qual a deseja como cantora de ópera.
Dividida entre a ambição e o amor, Mary cede à proposta de Burley, graças também aos constantes atritos da paixão não assumida com Norton e às infrutíferas tentativas de conciliação do padre Mulin (Spencer Tracy, fantástico), velho amigo de infância de Norton.
Essas vicissitudes românticas e demais dramas humanos esboçados com alguma superficialidade (mas, não destituídos de habilidade) encontram um rumo abrupto e inesperado quando o devastador terremoto se faz presente no terço final do filme.
Há quem veja no subtexto do filme um machismo intransigente (embora o personagem de Spencer Tracy, de certa forma, esteja lá para rebate-lo), uma problematização religiosa e inapropriada da tragédia em si, e uma ideologia triunfante (não raro, edificante) acerca dos valores capitalistas –o quê drena profundidade de muitos personagens, sobretudo, as femininas –mas, há que se compreender que são, acima de tudo, reflexos da época a que a produção pertence.
Se vista pelo prisma da contemporaneidade (que o filme teve há uns 83 anos atrás!), “São Francisco-A Cidade do Pecado” é uma obra que surpreende pela modernidade ainda conservada de seus efeitos visuais (D.W, Griffith foi diretor não-creditado de muitas de suas cenas), pela salutar ênfase de uma comunidade em mutirão contra o colapso e o caos, e pela hábil junção de todas essas facetas de gêneros distintos num todo absolutamente formidável, vistoso e empolgante –este filme foi pioneiro, é sempre bom lembrar, dos exemplares do cinema-catástrofe.
Razões de sobra para inclui-lo entre os grandes.

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