De “Titanic” a “Pearl Harbor” passando por
“Terremoto” e “O Dia Em Que O Mundo Acabou”, a fórmula de um drama entrelaçado
à uma catástrofe culminante não é nada novo no cinema.
Uma das primeiras experiências narrativas nesse
sentido, este “São Francisco-A Cidade do Pecado”, data de 1936.
Precedendo em alguns meses o famoso terremoto
que quase devastou a cidade em 1906, o filme dirigido com notável competência
por W.S. Van Dyke II acompanha o dia-a-dia no clube noturno de Blakie Norton (o
astro Clark Gable) que logo de cara encanta-se pela formosura e talento da
recém-contratada cantora da casa, Mary Blake (Jeanette MacDonald, genuinamente
apaixonante).
Há uma paixão que se ensaia entre os dois, mas
que logo encontra barreiras inerentes à ficção hollywoodiana; sobretudo, quando
ameaça se tornar um triângulo amoroso: Com seu talento e beleza visíveis, Mary
atrai a atenção e o coração do candidato à prefeitura Jack Burley (Jack Hold,
de “O Tesouro de Sierra Madre”), dono também do Teatro Tivoli, no qual a deseja
como cantora de ópera.
Dividida entre a ambição e o amor, Mary cede à
proposta de Burley, graças também aos constantes atritos da paixão não assumida
com Norton e às infrutíferas tentativas de conciliação do padre Mulin (Spencer
Tracy, fantástico), velho amigo de infância de Norton.
Essas vicissitudes românticas e demais dramas
humanos esboçados com alguma superficialidade (mas, não destituídos de
habilidade) encontram um rumo abrupto e inesperado quando o devastador
terremoto se faz presente no terço final do filme.
Há quem veja no subtexto do filme um machismo
intransigente (embora o personagem de Spencer Tracy, de certa forma, esteja lá
para rebate-lo), uma problematização religiosa e inapropriada da tragédia em
si, e uma ideologia triunfante (não raro, edificante) acerca dos valores
capitalistas –o quê drena profundidade de muitos personagens, sobretudo, as
femininas –mas, há que se compreender que são, acima de tudo, reflexos da época
a que a produção pertence.
Se vista pelo prisma da contemporaneidade (que
o filme teve há uns 83 anos atrás!), “São Francisco-A Cidade do Pecado” é uma
obra que surpreende pela modernidade ainda conservada de seus efeitos visuais
(D.W, Griffith foi diretor não-creditado de muitas de suas cenas), pela salutar
ênfase de uma comunidade em mutirão contra o colapso e o caos, e pela hábil junção
de todas essas facetas de gêneros distintos num todo absolutamente formidável,
vistoso e empolgante –este filme foi pioneiro, é sempre bom lembrar, dos
exemplares do cinema-catástrofe.
Razões de sobra para
inclui-lo entre os grandes.
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