O calejado Dobbs (Humphrey Bogart) abandonou a
tempos a dignidade para mendigar por dinheiro quando seus esforços por obter
dinheiro já se revelaram há tempos infrutíferos; o veterano Howard (Walter
Huston) vive como pode valendo-se de uma desenvoltura aliada a uma serenidade
intuitiva que os muitos anos de vida lhe proporcionaram; e o jovem Curtin (Tim
Holt) ainda alimenta o ímpeto e o sonho que esses dois cultivaram outrora, mais
está a passos largos de se deparar com as mesmas desilusões que a pobreza e a
frustração trouxe a eles.
Esse três homens, brutalizados pela dura
realidade da busca pelo ouro nas regiões inóspitas e montanhosas da América
Latina chegam juntos à um local no México que lhes promete a sonhada riqueza,
mas a tensão deflagrada pelas dificuldades e perigos naturais da empreitada
somada à cobiça converte-se, pouco a pouco, em uma espécie de hostilidade.
Com uma iniciativa incisiva em sua observação,
o diretor John Huston molda um dos mais primorosos estudos de personalidade do
cinema, confrontando seus personagens com as mais sombrias percepções que
brotam de suas próprias almas. Para tal, ele encontra em Humphrey Bogart uma
magnífica personificação dessa dualidade, deixando bem claro que a capacidade e
a versatilidade desse ator iam muito mais além do que os personagens pelos
quais ele é normalmente lembrado: O Rick Blaime de “Casablanca”, e os detetives
Phillip Marlowe, de “À Beira do Abismo”, e Sam Spade, de “O Falcão Maltês” (ou
“Relíquia Macabra”) –este, realizado também pelo próprio Huston.
A que se considerar que, num trabalho como
este, todo o elenco merece crédito, e não há como não louvar o magnífico Walter
Huston –que ganhou o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante dirigido pelo próprio
filho –de um contraponto pontual e perfeito não somente para Bogart, mas para
todos os outros atores (e seus conseqüentes humores) em cena.
Um grande e poderoso filme,
exemplar para o registro implacável da ganância corrosiva do homem, e digno de
um grande diretor como John Huston.
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