Al Pacino e Robert De Niro chegaram a
participar do mesmo elenco em “O Poderoso Chefão-Parte 2”, mas as diferentes
cronologias de seus personagens (De Niro viveu Vito Corleone na juventude,
enquanto Pacino interpretou Michael, seu filho, já adulto) impediu o encontro
dos dois em cena.
Pois foi exatamente esse o mote pelo qual este
épico policial de Michael Mann foi vendido em seu lançamento em 1996: O do
encontro inédito de dois monstros sagrados do cinema norte-americano.
E a narrativa de Michael Mann –trabalhando o gênero
policial com a perícia e o conhecimento que lhe são inerentes –deu aos seus
respectivos personagens um realce de superioridade que tornava espontânea essa
aura mítica que envolvia as duas presenças; tantos dos personagens como de seus
intérpretes.
Al Pacino surgia, assim, como Vincent Hanna, detetive
veterano da Polícia de São Francisco encabeçando a investigação a uma quadrilha
especializada cujos assaltos se mostram num nível extraordinário de audácia.
Tal quadrilha é liderada por Neil McCauley, personagem de Robert De Niro, um
ladrão expert e inteligente a ponto de tratar esse ofício como uma forma de
arte.
Contudo, tal e qual a grande galeria de
protagonistas da filmografia de Mann, Neil compreende o perigo que essa vida
oferece aos que se deixam seduzir por ela, e por isso sonha em logo se aposentar
e viver tranqüilo.
Mais do que um duelo físico –pois, de fato, os
momentos em que De Niro e Pacino ficam frente a frente são breves e fugazes –o diretor
Mann constrói um duelo existencial: Policial e bandido são, em diversas instâncias,
equivalentes e ao mesmo tempo opostos, antagônicos e também complementares.
Man, com a ajuda dessa dupla espetacular de protagonistas, foge da obviedade em
tornar Neil o vilão e Vincent o herói. De Niro compõe um tipo charmoso, sedutor
em sua sólida convicção e em sua postura de irrestrita disciplina, trabalhando
com características que o próprio Mann lançou mão com habilidade em outros
personagens no passado (“Profissão:Ladrão”) e que ainda iria lançar no futuro (“Inimigos
Públicos”); já, Pacino constrói um homem da lei amargurado em sua ideologia,
transfigurado pelo convívio constante com o pior da raça humana, e crédulo de
que a única maneira de justificar a brutalização irreversível que esse meio de
vida infligiu nele é jamais deixar de persistir no esforço para colocar todos
atrás das grades (ou a sete palmos debaixo do chão).
O jogo de gato e rato que ambos travam vai aos
poucos ganhando contornos de um duelo mortal, que acaba engolindo a vida
pessoal dos dois e, como numa tragédia de proporções míticas, Mann leva seus
antagonistas a enxergar um no outro sua única razão de ser.
É claro que o diretor também faz sua parte: A
condução e o ritmo de “Fogo Contra Fogo” são elementos brilhantes que preservam
o impacto perene deste épico vigoroso, no qual ele ainda cerca De Niro e Pacino
com um elenco estelar que vai de Val Kilmer à uma Natalie Portman recém-saída
de “O Profissional”.
Muitos anos depois, De Niro
e Pacino protagonizaram outro filme (talvez, uma resposta tardia aos fãs que
por ventura se ressentiram do pouco tempo de cenas juntos que eles dividem nas
quase três horas deste épico), e fizeram “As Duas Faces da Lei”, onde passam
praticamente todo o filme juntos. Contudo, é este trabalho, “Fogo Contra Fogo”,
que reflete magnificamente bem a magia cinematográfica incategorizável que é
juntar duas forças da natureza em seu auge.
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