sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Fogo Contra Fogo

Al Pacino e Robert De Niro chegaram a participar do mesmo elenco em “O Poderoso Chefão-Parte 2”, mas as diferentes cronologias de seus personagens (De Niro viveu Vito Corleone na juventude, enquanto Pacino interpretou Michael, seu filho, já adulto) impediu o encontro dos dois em cena.
Pois foi exatamente esse o mote pelo qual este épico policial de Michael Mann foi vendido em seu lançamento em 1996: O do encontro inédito de dois monstros sagrados do cinema norte-americano.
E a narrativa de Michael Mann –trabalhando o gênero policial com a perícia e o conhecimento que lhe são inerentes –deu aos seus respectivos personagens um realce de superioridade que tornava espontânea essa aura mítica que envolvia as duas presenças; tantos dos personagens como de seus intérpretes.
Al Pacino surgia, assim, como Vincent Hanna, detetive veterano da Polícia de São Francisco encabeçando a investigação a uma quadrilha especializada cujos assaltos se mostram num nível extraordinário de audácia. Tal quadrilha é liderada por Neil McCauley, personagem de Robert De Niro, um ladrão expert e inteligente a ponto de tratar esse ofício como uma forma de arte.
Contudo, tal e qual a grande galeria de protagonistas da filmografia de Mann, Neil compreende o perigo que essa vida oferece aos que se deixam seduzir por ela, e por isso sonha em logo se aposentar e viver tranqüilo.
Mais do que um duelo físico –pois, de fato, os momentos em que De Niro e Pacino ficam frente a frente são breves e fugazes –o diretor Mann constrói um duelo existencial: Policial e bandido são, em diversas instâncias, equivalentes e ao mesmo tempo opostos, antagônicos e também complementares. Man, com a ajuda dessa dupla espetacular de protagonistas, foge da obviedade em tornar Neil o vilão e Vincent o herói. De Niro compõe um tipo charmoso, sedutor em sua sólida convicção e em sua postura de irrestrita disciplina, trabalhando com características que o próprio Mann lançou mão com habilidade em outros personagens no passado (“Profissão:Ladrão”) e que ainda iria lançar no futuro (“Inimigos Públicos”); já, Pacino constrói um homem da lei amargurado em sua ideologia, transfigurado pelo convívio constante com o pior da raça humana, e crédulo de que a única maneira de justificar a brutalização irreversível que esse meio de vida infligiu nele é jamais deixar de persistir no esforço para colocar todos atrás das grades (ou a sete palmos debaixo do chão).
O jogo de gato e rato que ambos travam vai aos poucos ganhando contornos de um duelo mortal, que acaba engolindo a vida pessoal dos dois e, como numa tragédia de proporções míticas, Mann leva seus antagonistas a enxergar um no outro sua única razão de ser.
É claro que o diretor também faz sua parte: A condução e o ritmo de “Fogo Contra Fogo” são elementos brilhantes que preservam o impacto perene deste épico vigoroso, no qual ele ainda cerca De Niro e Pacino com um elenco estelar que vai de Val Kilmer à uma Natalie Portman recém-saída de “O Profissional”.
Muitos anos depois, De Niro e Pacino protagonizaram outro filme (talvez, uma resposta tardia aos fãs que por ventura se ressentiram do pouco tempo de cenas juntos que eles dividem nas quase três horas deste épico), e fizeram “As Duas Faces da Lei”, onde passam praticamente todo o filme juntos. Contudo, é este trabalho, “Fogo Contra Fogo”, que reflete magnificamente bem a magia cinematográfica incategorizável que é juntar duas forças da natureza em seu auge.

Nenhum comentário:

Postar um comentário