O cinema comercial –em especial, o hollywoodiano –sempre valeu-se do ostensivo apelo de público no qual eram reunidas duas (ou mais) grandes estrelas em cena; em torno disso girou a própria premissa do sucesso “Onze Homens e Um Segredo”, por exemplo. A despeito da qualidade –alguns filmes tinham muita, outros não tinham nenhuma... –esse era um recurso que parecia funcionar muito bem e instigava a curiosidade dos expectadores. E por volta da década de 1990, não haviam estrelas tão reluzentes quanto Mel Gibson e Julia Roberts, e foram justamente os dois quem o diretor Richard Donner reuniu no interessante, envolvente e descontraído “Teoria da Conspiração”.
Na época, o diretor Donner e o astro Mel Gibson
estavam aproveitando ao máximo uma sintonia rara descoberta em pleno set de
filmagens: Donner não apenas havia dirigido, com largo êxito, Gibson na série
“Máquina Mortífera” –naquele ano, 1997, os três primeiros filmes já haviam sido
feitos, e o quarto seria lançado no ano seguinte –como também dirigiu Gibson no
faroeste “Maverick”. Na sua colaboração, portanto, Donner sabia precisamente o
que poderia extrair das capacidades de Gibson e disso se vale para construir a
trama engenhosa deste filme.
Flertando até que um bocado com a comédia –na
qual Gibson se sai muito bem na sua dosagem de tiques nervosos –o roteiro de
Brian Helgeland (roteirista de “Los Angeles-Cidade Proibida” cujo apreço sempre
foram tramas intrincadas) apresenta o paranóico e catatônico personagem Jerry
Fletcher, vivido por Mel Gibson. Fletcher é um motorista de táxi de Nova York,
no entanto, essa ocupação não chega exatamente à defini-lo; seu objetivo, como
taxista, parece ser mais o de passar despercebido às autoridades governamentais
que, em seu íntimo, ele crê conspirarem o tempo todo contra o cidadão comum a
fim de estabelecer um controle sempre maior sobre o mundo. Para tanto, Fletcher
tem uma rotina regida pelos mais extremos pormenores do transtorno
obsessivo-compulsivo (trancas e fechaduras, por exemplo, são uma eterna fonte
de dúvida), publica clandestinamente um jornal subversivo destinado à apontar
as mais improváveis conspirações praticadas pelo governo (o “Conspiracy
Theory”) e atazana a vida da advogada do Departamento de Justiça dos EUA Alice
Sutton (Julia Roberts) que, solícita, até dá um pouco de corda às suas
sandices.
Entretanto, numa noite, Jerry é capturado por
homens misteriosos liderados pelo obscuro Dr. Jonas (Patrick Stewart,
sensacional numa quase recriação do personagem de Laurence Olivier em “Maratona
da Morte”). O motivo, ainda que nebuloso, não tarda a se esclarecer: Em algum
momento, dentre tantas teorias aleatórias veiculadas em seu jornalzinho
clandestino, Fletcher acertou uma delas em cheio, o problema é, qual delas?
Tentando escapar dos homens perigosos e treinados que agora o perseguem (em uma
cena, numa divertida brincadeira do diretor Donner, Gibson refugia-se num
cinema que exibe “O Feitiço de Áquila”, um de seus clássicos dos anos 1980),
Fletcher acaba envolvente a sensata Dra. Sutton em suas enrascadas e, nesse percurso
tortuoso, descobre que havia sido, ele próprio, vítima de uma espécie de
lavagem cerebral previamente realizada; o que em parte explica seu
comportamento paranóico e cheio de T.O.C. além de sua obsessão inexplicável
pelo livro “O Apanhador No Campo de Centeio”.
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