A primeira cena já é calibrada a perfeição para
capturar o interesse do expectador: Brett Maverick (Mel Gibson, incrivelmente
carismático) está amarrado sob um cavalo, o pescoço preso à forca de uma árvore
e o animal na iminência de uma disparada em razão das cobras que foram atiradas
ao chão.
Com o protagonista nessa tremenda encrenca, o
filme realiza seu providencial flashback, por meio do qual tratará de revelar à
platéia como ele foi parar lá.
Lances inspirados de roteiro não poderiam mesmo
faltar à esta adaptação cinematográfica de uma famosa série de TV, uma vez que
escalado para escrevê-la está o renomado William Goldman, vencedor do Oscar de
Melhor Roteiro justamente por “Butch Cassidy” –a manobra, contudo, soa mais
como uma forma de atrair interessados num faroeste novamente roteirizado por
Goldman do que um plano para agregar qualidade de fato ao projeto: Há realmente
bons momentos, no entanto, eles convivem com seqüências que beiram o
constrangedor na falta de graça de algumas piadas, ou no excesso de frases
feitas que poluem os diálogos.
Jogador de pôquer, pistoleiro e ocasional
fora-da-lei, Brett Maverick tem um plano com o qual deseja lucrar o suficiente
para um bom período de descanso da vida atribulada de golpista: Vencer um
campeonato disputadíssimo de pôquer cujo ingresso custa 25 mil dólares –uma
fortuna nos tempos do Velho Oeste!
Efetivamente, cruzam-se em seu caminho, no
decurso de tumultuadas aventuras, a charmosa falsária Annabelle (Jodie Foster,
numa inusitada personagem que exige mais de suas habilidades cômicas, além de
ostentar insuspeita sensualidade) e o xerife intransigente Zane Cooper (James
Garner, veterano intérprete do Maverick televisivo), bem como o carrancudo
pistoleiro Angel (Alfred Molina).
Todos exemplos do tratamento irônico que o
filme espertamente dá à alguns ícones do faroeste: Um dos trechos mais
engraçados é o encontro de Maverick com o chefe indígena Joseph, velho
companheiro de falcatruas tão cheio de lábia interpretado por Graham Greene, de
“Dança Com Lobos”, que nem seu velho amigo escapa de sua malandragem.
Conseqüência de uma série de tendências do
cinema norte-americano dos anos 1990 de então (uma tentativa de restabelecer o
faroeste após a consagração de “Os Imperdoáveis”; uma nova série de TV ganhando
as telas de cinema após o sucesso de “O Fugitivo”; e uma nova parceria do
diretor Richard Donner e do astro Mel Gibson após “Máquina Mortífera”)
“Maverick” vai, pelo menos, na contramão dos exemplares densos e dramáticos dos
novos faroestes que foram produzidos no período, como “Wyatt Earp”, ostentando
uma descontração e uma diversão que remetem ainda mais à “Butch Cassidy” –e o
roteirista Goldman, deveras não resiste à tentação de introduzir, numa cena,
uma referência ao clássico passeio de bicicleta daquele filme.
Se no final das contas,
“Maverick” oscila entre seqüências divertidas e outras insatisfatórias
(sobretudo, perto do fim quando sua duração começa a se revelar excessiva), ele
tem em contrapartida o mérito de ficar na memória como um bom e bem-humorado
entretenimento.
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