As melhores histórias de amor nascem do
antagonismo. Shakespeare sabia disso ao criar “Romeu & Julieta”. Na esteira
desse ímpeto criativo, as mais variadas histórias de amor foram contadas no
cinema: “Casablanca” (onde os amantes eram separados pelas circunstâncias da
guerra), “Titanic” (ele, pobre; ela, rica; e mais tarde, um naufrágio
monumental acirra a situação), “Asas do Desejo” (ele, um anjo; ela, uma humana,
entre eles, todo um mundo metafísico), “O Segredo de Brokeback Mountain” (dois
homens que se amam e são separados pela imposição da sociedade).
E não haveria de ser Frank Capra –o diretor que
definiu o encanto no cinema americano –que deixaria de fazer essa lição de
casa. Nesta adaptação cheia de energia, perspicácia e observação da peça
teatral de George S. Kaufman e Moss Hart –e ganhadora do Pulitzer –os
empecilhos para o amor dos dois jovens apaixonados Alice e Tony (Jean Arthur e
James Stewart) vêem a se revelar tão complicados que se desdobram no filme como
um todo.
Ele é filho de um empresário (Edward Arnold)
cuja ambição mira um plano para adquirir todos os terrenos de um quarteirão
onde construirá uma colossal e promissora fábrica de armas.
Ela é filha do patriarca (Lionel Barrymore) da
amalucada e amorosa família que reside no único terreno que ainda não foi
comprado –e que não desejam vender!
Desse enlace de coincidências que por vezes só
o cinema é capaz, Capra urge um gracioso conflito que move a narrativa. Sim,
gracioso, pois no cinema de Frank Capra, os vilões não são tão maus que um
empurrão não os torne também adoráveis, e os protagonistas oscilam com graça
entre o humor e o drama (mais humor do que drama!).
A vida, afinal, naqueles idos de 1937 –quando
realizou este e outros filmes –era já muito cheia de crueza e desilusão
acarretada pela Grande Depressão para que os filmes tivessem isso também.
Capra acompanha assim, com toda comicidade e
galhofa, a maneira como o desejo de Alice e Tony em oficializar seu matrimônio
vira de pernas para o ar a dinâmica de suas famílias.
Neste simpático e singelo
vencedor do Oscar (Melhor Filme e Melhor Diretor), o casal formado por James
Stewart e Jean Arthur funciona de tal maneira que o próprio Capra tornou a
reuni-los, desta vez, em “A Mulher Faz O Homem”.
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