terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Do Mundo Nada Se Leva

As melhores histórias de amor nascem do antagonismo. Shakespeare sabia disso ao criar “Romeu & Julieta”. Na esteira desse ímpeto criativo, as mais variadas histórias de amor foram contadas no cinema: “Casablanca” (onde os amantes eram separados pelas circunstâncias da guerra), “Titanic” (ele, pobre; ela, rica; e mais tarde, um naufrágio monumental acirra a situação), “Asas do Desejo” (ele, um anjo; ela, uma humana, entre eles, todo um mundo metafísico), “O Segredo de Brokeback Mountain” (dois homens que se amam e são separados pela imposição da sociedade).
E não haveria de ser Frank Capra –o diretor que definiu o encanto no cinema americano –que deixaria de fazer essa lição de casa. Nesta adaptação cheia de energia, perspicácia e observação da peça teatral de George S. Kaufman e Moss Hart –e ganhadora do Pulitzer –os empecilhos para o amor dos dois jovens apaixonados Alice e Tony (Jean Arthur e James Stewart) vêem a se revelar tão complicados que se desdobram no filme como um todo.
Ele é filho de um empresário (Edward Arnold) cuja ambição mira um plano para adquirir todos os terrenos de um quarteirão onde construirá uma colossal e promissora fábrica de armas.
Ela é filha do patriarca (Lionel Barrymore) da amalucada e amorosa família que reside no único terreno que ainda não foi comprado –e que não desejam vender!
Desse enlace de coincidências que por vezes só o cinema é capaz, Capra urge um gracioso conflito que move a narrativa. Sim, gracioso, pois no cinema de Frank Capra, os vilões não são tão maus que um empurrão não os torne também adoráveis, e os protagonistas oscilam com graça entre o humor e o drama (mais humor do que drama!).
A vida, afinal, naqueles idos de 1937 –quando realizou este e outros filmes –era já muito cheia de crueza e desilusão acarretada pela Grande Depressão para que os filmes tivessem isso também.
Capra acompanha assim, com toda comicidade e galhofa, a maneira como o desejo de Alice e Tony em oficializar seu matrimônio vira de pernas para o ar a dinâmica de suas famílias.
Neste simpático e singelo vencedor do Oscar (Melhor Filme e Melhor Diretor), o casal formado por James Stewart e Jean Arthur funciona de tal maneira que o próprio Capra tornou a reuni-los, desta vez, em “A Mulher Faz O Homem”.

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