A Netflix ocasionalmente capitaliza certa audiência com algumas produções que, não raro, giram em torno de um enredo francamente aflitivo a envolver uma mulher metida em enrascadas de natureza mirabolante –assim foi nos sucessos “Destinos À Deriva”, “Bird Box” (com Sandra Bullock) e, no que talvez seja o precursor desse modismo, “Jogo Perigoso”. “Não Se Mexa” engorda tal lista repetindo praticamente todos os mesmos tópicos, inclusive o sucesso súbito, indicativo do quanto obras assim, enxutas, exasperantes e pontuais, vão de encontro ao gosto do público.
A jovem Iris (Kelsey Chow, de “Terra Selvagem”)
vive uma angústia doméstica infindável –seu filho pequeno morreu ao cair de um
despenhadeiro –o que mergulha seus dias numa depressão sem fim. Ao procurar o
local da morte do filho para cogitar seriamente a possibilidade de jogar-se de
lá, Iris encontra o gatilho para um outro tipo de tormento: Richard, ou um
homem que se apresenta a ela com o nome de Richard (interpretado por Finn
Wittrock, de “A Grande Aposta” e “Twelve-Vidas Sem Rumo”), aparece do nada,
revelando uma história tão trágica e lamentável quanto a dela e demonstrando
estar solícito com seu sofrimento –ela a convence a não se jogar do despenhadeiro
e, quando se dá conta, Iris está ao lado dele na floresta em regresso ao seu
carro.
No entanto, Richard não é nada daquilo que
aparentava ser. Ele é, sim, um serial-killer
–e, provavelmente, Richard nem é seu verdadeiro nome, visto que, ao longo do
filme, ele fornece outros nomes à outros personagens –e, após capturar, inconscientizar
e amarrar Iris em seu carro, já temos uma ideia (baseada em tantas obras sobre serial-killers já feita) do quê ele
haverá de fazer com ela. Ali mesmo, porém, Iris escapa –na primeira de várias
improbabilidades que o roteiro equilibra uma sobre a outra –e durante a luta
com Richard, à bordo do carro em movimento, faz com que o veículo colida contra
uma árvore (!). Iris foge pela floresta afora, contudo, enquanto estava
desacordada no carro, foi injetado nela uma droga que fará seu organismo ‘desligar’
em cerca de vinte minutos: A droga vai parasilá-la completamente. Ela poderá
ver e ouvir tudo o que se passa, mas ficará incapaz de se mover ou se exprimir.
E é aí que começa a pequena e original sacada
que ocupa do cerne desta produção assinada por Sam Raimi, um notório entusiasta
de filmes de terror e suspense: Uma obra na qual a protagonista, ainda que
perseguida por um assassino, não consegue se mexer, nem falar, durante a quase
totalidade de sua duração –e ainda assim, levando ao extremo a definição de
estar indefesa, praticamente tornada tão impotente ante o vilão quanto os
próprios expectadores (ainda que, diferente de nós, ela corra risco real de se
ferir e morrer), o roteiro encontra meios de avançar com sua trama, criar
situações sucessivas, e circunstâncias quase episódicas, nas quais a
protagonista vegetativa tem que esperar o efeito severo da droga paralisante e
contar com a pura sorte para que seu antagonista implacável não faça dela sua
próxima vítima.
Naturalmente, ao realizar verdadeiros malabarismos
narrativos para manter, avançar e justificar uma trama assim, o filme dirigido
por Adam Schindler e Brian Netto flerta, e muito, com a inverossimilhança em
vários momentos –ainda que se pretenda realista em várias ocasiões. São aspectos
menores diante do fato bastante relevante de que a obra demonstra, acima de
tudo, bom senso, ao se desenvolver numa duração enxuta (cerca de uma hora e
meia de duração), sabendo desenvolver e concluir sua premissa antes que o
expectador se dê conta do quanto absurda ela é.
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