Filmes comerciais em geral reúnem conceitos em
torno dos quais a trama respira e se impõe para consolidar o filme em si. Por
tratarem-se de conceitos, normalmente essa manobra resulta em produtos fracos
do ponto de vista temático –quando muito, eles são batidos.
É mais ou menos o caso deste suspense até que
eficiente, protagonizado por uma atriz das mais funcionais dentre os jovens
talentos atuais: A bela e competente Blake Lively.
De imediato, as tomadas do diretor Jaume
Collet-Serra lembram os artifícios empregados por Steven Spielberg, quarenta
anos antes, em “Tubarão” –e definitivamente não há como realizar um filme sobre
esses perigos do mar sem evitar a comparação com essa obra seminal de
Spielberg.
Collet-Serra até se sai bem; compõe um visual
caprichado –prerrogativa básica dos altamente orçados blockbusters de hoje –e
cria um diversificado trabalho de cena, nas quais as tomadas desde o início
bucólico investigam os detalhes mais banais (chega a lembrar certos aspectos da
direção de fotografia de Emmanuel Lubezki em “A Árvore da Vida”), e constrói
uma atmosfera de apreensão que se instala aos poucos com ocasionais
interrupções de um alarmante silêncio em meio ao fluxo de sons do mar.
É com esse clima que acompanhamos a chegada de
Nancy (Lively) numa praia afastada, deserta e paradisíaca disposta a surfar as
ondas numa tentativa de espairecer pelo peso de algumas de suas escolhas –ela parece
ter desistido de um curso de medicina após o falecimento da mãe, ou algo
assim...
Sem ela notar, criam-se os elementos perfeitos
para que ela caia em uma emboscada: Longe de tudo e de todos, sozinha, sem ter
como pedir ajuda e munida de sua prancha em alto-mar, além de poucos utensílios
(como o seu celular) que ela deixou na areia da praia. Quando ela é atacada na
perna por um tubarão descomunal, tudo o que Nancy pode fazer é refugiar-se por
algum tempo, sobre uns recifes no meio das águas, enquanto a maré alta não
fizer com que aquele lugar fique imerso, e ela, exposta ao tubarão.
Há outro filme com o qual “Águas Rasas” parece
estabelecer uma ligeira (e bota ligeira nisso!) similaridade: “Gravidade”.
Assim como na obra-prima de Alfonso Cuarón,
temos uma personagem feminina, dilacerada por uma tragédia familiar, mas
confrontada com uma situação tão improvável quanto inóspita, na qual as condições
a levam à lutar por sua vida. Ainda que longe do virtuosismo extraordinário de
Cuarón, o diretor Collet-Serra explora bem a angustiante ausência de recursos
de sua protagonista, obtendo uma funcional carga de suspense, demonstrando
bom-senso e noção de timing ao manter uma metragem enxuta (o filme tem rápidos
oitenta e seis minutos de duração) e abrindo espaço para Blake Lively provar a
atriz notável que é.
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