Não deixa de ser admirável o fôlego que demonstra o diretor
David Yates ao entregar dois projetos de considerável complexidade logística
neste mesmo ano de 2016.
Um, o bem-sucedido derivado da série “Harry
Potter” (da qual, aliás, os quatro últimos longa-metragens ele se encarregou),
“Animais Fantásticos e Onde Habitam”.
O outro, esta reinvenção da célebre história do
homem criado entre os macacos, concebida por Edgar Rice Burroughs, e tema de
infindáveis versões cinematográficas e televisivas.
A saída dos roteiristas para supostamente
contar algo novo (afinal, a origem do personagem já foi esmiuçada inúmeras
vezes) foi inserir Tarzan e Jane –dois personagens fictícios, é sempre bom
lembrar –em um contexto histórico real, além de ser uma trama sobre o retorno
do personagem à África (embora Yates não se furte de, também ele, contar uma
breve origem, surgida em meio à lapsos narrativos que sinceramente, não
precisavam estar lá), no qual um Tarzan já estabelecido regressa para o seu
meio, e no processo reencontra suas características antológicas: Soa como uma
manobra parecida com o quê Bryan Singer fez em “Superman-O Retorno”.
Vamos aos fatos: O ano é 1890, e o Congo, na
África, em poder do rei Leopoldo, da Bélgica, é um lugar explorado pela
escravidão. Lá, o mercenário estrategista Leon Rom (Christoph Waltz
interpretando com certo relaxo o personagem real que teria inspirado Kurtz do
livro “The Hearts Of Darkness, de Joseph Conrad) tem por objetivo encontrar
diamantes raros, que só ficarão à sua disposição se ele levar Tarzan até o
líder vingativo de uma tribo (o intenso Djimon Hounson, em breve participação).
Mas, Tarzan (interpretado por Alexander
Skarsgaard, da série “True Blood”, também com um pouco de relaxo) assumiu, nos
últimos oito anos, o título de Lorde Greystoke, bem como o nome de John Clayton
III, e se encontra em Londres, casado e acomodado com Jane (Margot Robbie, bela
ainda que deslocada). Aquele que providencialmente o levará de volta ao lugar
onde foi criado será George Washington Williams (Samuel L. Jackson sempre
esmerado), figura real, um americano que buscou ir ao Congo em busca de provas
da atividade escravagista ilegal lá praticada.
O roteiro assim amarra (de maneira relapsa, é
bem verdade) essas situações levando Jane a ser capturada por Rom, que conduz
Tarzan selva adentro à procura dela, e no caminho, vai se despindo do homem
civilizado que tentou ser, e volta a transformar-se no personagem que todos
conhecem.
O grande problema de “A Lenda de Tarzan” foi
provavelmente seu diretor ter se incumbido de dois projetos: Ao dedicar-se
quase que simultaneamente à “Animais Fantásticos...” (que estreou nos cinemas
cerca de três meses depois deste “Tarzan”), Yates negligenciou muito da
pós-produção deste filme, e isso é perfeitamente visível na tela –um dos
melhores exemplos é o uso demasiado e desleixado da computação
gráfica, que materializa inúmeros bichos digitais, mas o faz sem maior
propriedade, bem como as cenas que mostram Tarzan se balançando em cipós, tão
irreais e forçosamente estilizadas que parecem até mais fantasiosas do que as
acrobacias do Homem-Aranha!
Desde as batalhas que se desenvolvem em cena
(que passam a incômoda sensação de terem sido feitas às pressas, com detalhes
mal planejados) até amarras mais sutis entre as situações do roteiro (muitas
delas até soando como certo amadorismo), a produção vai acumulando falhas e
erros de condução, muitos deles tão óbvios, que leva pouco tempo para tornar-se
uma experiência maçante.
Foi perdida uma bela
oportunidade para se fazer uma nova e empolgante versão de um personagem tão
fundamental da cultura pop. O melhor ainda é ficar com a maravilhosa versão
animada dos estúdios Disney de 1999, ou qualquer um dos sensacionais filmes
antigos estrelados por Johnny Weissmuller.
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