O diretor Joel Schumacher parece adorar a voz
do ator Kiefer Sutherland. Ele primeiro o dirigiu nos anos 1990 dando-lhe um
personagem loquaz e eloquente no suspense “Linha Mortal”. Em seguida, ele o
escalou para um papel quase desprovido de presença cênica, mas cuja voz era
fundamental: O do franco-atirador anônimo e onipresente em “Por Um Fio”.
Em “Twelve-Vidas Sem Rumo”, Kiefer Sutherland
surge como o narrador da trama inspirada no livro de Nick McDonell, cuja
narração se faz necessária para o ritmo, para o entendimento, e até para certa
melodia do filme.
Buscando ser uma daquelas obras independentes
que denunciam a falta de perspectiva dos jovens privilegiados (os adultos,
quando aparecem, se mostram instáveis e negligentes), o filme circula a vida de
alguns personagens aleatórios capturados numa festa que inicia a trama –e
deixados numa outra festa que a encerra.
O protagonista White Mike (Chace Crawford) é
fornecedor de drogas para a maioria desses jovens. Ele mente compulsivamente
para a angelical Molly (Emma Roberts) enquanto chafurda deliberadamente na lama
do submundo dos traficantes.
Morador da mansão onde a festa se sucede, o
jovem Chris (Rory Colkin) se vê às voltas com a agressividade do irmão mais
velho, Claude (Billy Magnussen), recém-saído da reabilitação, e com a
envolvente (e existencialmente promíscua) sedução da patricinha Sara (Esti
Ginzburg) que manipula todos a sua volta –ela obtém status com o namorado
Tobias (Nico Tortorella); adoração e drogas com o jovem Andrew (Maxx Brawer);
e, de Chris, o consentimento para celebrar seu aniversário na casa dele.
É numa dessas festas que sua amiga, Jessica
(Emily Meade) acaba sem querer se viciando no alucinógeno ‘Twelve’, tão forte
que White Mike se recusa a vender –quem o vende é o perigoso traficante Lionel
(Curtis Jackson) a um preço tão proibitivo que logo Jessica terá de se
prostituir para manter o vício.
O próprio Lionel e White Mike, até então
colaboradores leais, podem estar em rota de colisão: Lionel matou Charlie
(Jeremy Allen White), amigo de infância de White Mike, cuja culpa, segundo a
polícia, pode vir a incriminar o instável Hunter (Philip Ettinger), primo de Mike.
O diretor conduz essa
ciranda numa narrativa refinada em empenho visual, acrescida de ritmo e de
todas as alternativas cosméticas e transfiguradoras do cinema. E, nesse empenho
(no de conceber um filme agradável a qualquer custo), ele abdica por completo
da retidão moral: Schumacher não escapa do fato de que passa a mão na cabeça de
personagens frequentemente amorais, ainda que ele o faça num filme fluido e
sedutor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário