segunda-feira, 8 de julho de 2019

Twelve - Vidas Sem Rumo

O diretor Joel Schumacher parece adorar a voz do ator Kiefer Sutherland. Ele primeiro o dirigiu nos anos 1990 dando-lhe um personagem loquaz e eloquente no suspense “Linha Mortal”. Em seguida, ele o escalou para um papel quase desprovido de presença cênica, mas cuja voz era fundamental: O do franco-atirador anônimo e onipresente em “Por Um Fio”.
Em “Twelve-Vidas Sem Rumo”, Kiefer Sutherland surge como o narrador da trama inspirada no livro de Nick McDonell, cuja narração se faz necessária para o ritmo, para o entendimento, e até para certa melodia do filme.
Buscando ser uma daquelas obras independentes que denunciam a falta de perspectiva dos jovens privilegiados (os adultos, quando aparecem, se mostram instáveis e negligentes), o filme circula a vida de alguns personagens aleatórios capturados numa festa que inicia a trama –e deixados numa outra festa que a encerra.
O protagonista White Mike (Chace Crawford) é fornecedor de drogas para a maioria desses jovens. Ele mente compulsivamente para a angelical Molly (Emma Roberts) enquanto chafurda deliberadamente na lama do submundo dos traficantes.
Morador da mansão onde a festa se sucede, o jovem Chris (Rory Colkin) se vê às voltas com a agressividade do irmão mais velho, Claude (Billy Magnussen), recém-saído da reabilitação, e com a envolvente (e existencialmente promíscua) sedução da patricinha Sara (Esti Ginzburg) que manipula todos a sua volta –ela obtém status com o namorado Tobias (Nico Tortorella); adoração e drogas com o jovem Andrew (Maxx Brawer); e, de Chris, o consentimento para celebrar seu aniversário na casa dele.
É numa dessas festas que sua amiga, Jessica (Emily Meade) acaba sem querer se viciando no alucinógeno ‘Twelve’, tão forte que White Mike se recusa a vender –quem o vende é o perigoso traficante Lionel (Curtis Jackson) a um preço tão proibitivo que logo Jessica terá de se prostituir para manter o vício.
O próprio Lionel e White Mike, até então colaboradores leais, podem estar em rota de colisão: Lionel matou Charlie (Jeremy Allen White), amigo de infância de White Mike, cuja culpa, segundo a polícia, pode vir a incriminar o instável Hunter (Philip Ettinger), primo de Mike.
O diretor conduz essa ciranda numa narrativa refinada em empenho visual, acrescida de ritmo e de todas as alternativas cosméticas e transfiguradoras do cinema. E, nesse empenho (no de conceber um filme agradável a qualquer custo), ele abdica por completo da retidão moral: Schumacher não escapa do fato de que passa a mão na cabeça de personagens frequentemente amorais, ainda que ele o faça num filme fluido e sedutor.

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