terça-feira, 9 de julho de 2019

Gasparzinho - O Fantasminha Camarada

Ainda durante os anos 1990, quando o emprego da computação gráfica no cinema permanecia visto como um ato constante de experimentação, o diretor Brad Silberling –com a luxuosa produção de Steven Spielberg –saiu na frente com a primeira produção a trazer um protagonista digital (até então, filmes como “Jurassic Park” e outros, contentavam-se em ostentar criaturas coadjuvantes ou aparições ocasionais como presenças exclusivamente geradas por computador).
O que sobrou em audácia nesta decisão, contudo, compensou o anacronismo quase nostálgico que predomina no restante de todo o filme –algo que a direção perspicaz de Silberling trata de virar a seu favor, visto que “Gasparzinho” (ou “Casper”, no original) é a adaptação cinematográfica de um personagem de desenho animado tão antiquado que poucas crianças haveriam de lembrar com exatidão dos detalhes de sua fonte original.
Assim, temos o personagem principal, o fantasma Gasparzinho (na voz do jovem Malachi Pearson) –recriado com minúcia e inteligência pelos efeitos visuais –que, tendo falecido muito jovem, conserva um maravilhamento infantil diante de tudo, assim como um desejo de ter amigos. Vontade dificíl de ser realizada, uma vez que sua moradia, a Mansão Whipstaff, é a famigerada casa mal-assombrada da cidade, graças às travessuras de seus três tios, também fantasmas, que compõem o Trio Assombroso.
(Há, inclusive, uma sensacional referência a “Os Caça-Fantasmas” na cena em que Dan Akroyd, devidamente trajando o figurino daquele filme, desiste de tentar conter aquelas assombrações!)
Usando porém da desenvoltura típica dos personagens de animação, Gasparzinho consegue trazer para sua mansão a única visita que lhe parece importar: A jovem Kat Harvey (Christina Ricci, crescendo de forma encantadora depois de seu papel de Wednesday em “A Família Addams”), filha do atrapalhado pesquisador paranormal Dr. Harvey (Bill Pullman), viúvo cujos objetivos buscam, lá no fundo, contactar do além, de alguma forma, a esposa falecida.
O choque com os fantasmas é inevitavelmente entrelaçado pela inocência e pela comicidade caricata típica das animações antigas, mas não deixa de ser divertido (e tome outras referências, sobretudo, nas participações inacreditáveis de Clint Eastwood, Mel Gibson e Rodney Dangerfield).
Contudo, assustar não é o objetivo de Gasparzinho: Ele quer um amigo, oportunidade que ele enxerga em Kat (ou, talvez, até algo mais!).
Assim, o filme de Silberling, tal e qual seu protagonista, cheio de doçura e boas intenções (características potencializadas pela ótima trilha sonora de James Horner) se torna um exemplo louvável de transposição competente de um personagem animado para o live-action e uma agradabilíssima fábula infanto-juvenil com direito até a um romance adolescente –quando Gasparzinho, no trecho final, expõe seus sentimentos a Kat, em um desfecho meio hesitante mas ainda assim enternecedor.

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