Ainda durante os anos 1990, quando o emprego da
computação gráfica no cinema permanecia visto como um ato constante de
experimentação, o diretor Brad Silberling –com a luxuosa produção de Steven
Spielberg –saiu na frente com a primeira produção a trazer um protagonista
digital (até então, filmes como “Jurassic Park” e outros, contentavam-se em
ostentar criaturas coadjuvantes ou aparições ocasionais como presenças
exclusivamente geradas por computador).
O que sobrou em audácia nesta decisão, contudo,
compensou o anacronismo quase nostálgico que predomina no restante de todo o
filme –algo que a direção perspicaz de Silberling trata de virar a seu favor,
visto que “Gasparzinho” (ou “Casper”, no original) é a adaptação
cinematográfica de um personagem de desenho animado tão antiquado que poucas
crianças haveriam de lembrar com exatidão dos detalhes de sua fonte original.
Assim, temos o personagem principal, o fantasma
Gasparzinho (na voz do jovem Malachi Pearson) –recriado com minúcia e
inteligência pelos efeitos visuais –que, tendo falecido muito jovem, conserva
um maravilhamento infantil diante de tudo, assim como um desejo de ter amigos.
Vontade dificíl de ser realizada, uma vez que sua moradia, a Mansão Whipstaff,
é a famigerada casa mal-assombrada da cidade, graças às travessuras de seus
três tios, também fantasmas, que compõem o Trio Assombroso.
(Há, inclusive, uma sensacional referência a
“Os Caça-Fantasmas” na cena em que Dan Akroyd, devidamente trajando o figurino
daquele filme, desiste de tentar conter aquelas assombrações!)
Usando porém da desenvoltura típica dos
personagens de animação, Gasparzinho consegue trazer para sua mansão a única
visita que lhe parece importar: A jovem Kat Harvey (Christina Ricci, crescendo
de forma encantadora depois de seu papel de Wednesday em “A Família Addams”),
filha do atrapalhado pesquisador paranormal Dr. Harvey (Bill Pullman), viúvo
cujos objetivos buscam, lá no fundo, contactar do além, de alguma forma, a
esposa falecida.
O choque com os fantasmas é inevitavelmente
entrelaçado pela inocência e pela comicidade caricata típica das animações
antigas, mas não deixa de ser divertido (e tome outras referências, sobretudo,
nas participações inacreditáveis de Clint Eastwood, Mel Gibson e Rodney
Dangerfield).
Contudo, assustar não é o objetivo de
Gasparzinho: Ele quer um amigo, oportunidade que ele enxerga em Kat (ou,
talvez, até algo mais!).
Assim, o filme de
Silberling, tal e qual seu protagonista, cheio de doçura e boas intenções
(características potencializadas pela ótima trilha sonora de James Horner) se
torna um exemplo louvável de transposição competente de um personagem animado
para o live-action e uma agradabilíssima fábula infanto-juvenil com direito até
a um romance adolescente –quando Gasparzinho, no trecho final, expõe seus
sentimentos a Kat, em um desfecho meio hesitante mas ainda assim enternecedor.
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