terça-feira, 9 de julho de 2019

Querida América - Cartas do Vietnam

No objetivo que normalmente almeja um documentário, o filme realizado por Bill Couturie é certeiro: Não tarda a provocar no expectador sentimentos de indignação, de perplexidade conforme dele vai se inteirando seu assunto principal, a Guerra do Vietnam.
A fonte que Couturie utiliza é de um frescor e uma sinceridade inquestionáveis: São as cartas enviadas por soldados americanos que serviram no Vietnam endereçadas às suas famílias.
Um elenco numeroso e espetacular de astros de Hollywood (Tom Berenger, Wilen Dafoe, Martin Sheen, Robert De Niro, Robert Downey Jr., Kathleen Turner, Michael J. Fox, John Savage, Sean Penn, Robin Williams e outros) garante a devida emotividade aos relatos que determinam, sozinhos, a narrativa do filme.
A montagem intercala de maneira linear e responsável os noticiários da época (rádio e TV), com filmagens ocasionais dos próprios recrutas no front, fotos e, próximo do fim, até mesmo sequências de um filme vietnamita.
O que vemos indiretamente é a progressão da guerra através das impressões subjetivas das pessoas comuns que participaram dela. A euforia de alguns recrutas pelo oportunidade de representar sua nação e visitar, com tão pouca idade, um país exótico. O assombro e as tentativas de adequação com a chegada no campo de batalha. A rotina militar que, a medida que o conflito se intensifica, logo se torna massacrante. O miasma de emoções vividos pelos soldados que alternam responsabilidade, medo de morrer, compaixão para com os colegas e avassaladora saudade de casa. As notícias que dão conta da postura do governo americano, irredutível  na gestão de Lyndon Johnson, incerta no período de eleições (que incluiu o assassinato de Bobby Kennedy), e pessimista com a vitória de Richard Nixon; esse evidente despreparo com a guerra logo gera um sentimento crescente de indignação no povo americano –sentimento este que as cartas só veem a enfatizar dando conta, neste ponto do filme, do mais absoluto horror da guerra, e da certeza amarga de que aqueles jovens (os sobreviventes, ao menos) voltarão transfigurados e dilacerados física e espiritualmente pela experiência.
Ao expor os fatos sem nenhuma encenação ou maquiagem, Bill Couturie oferece ao público um retrato ainda mais brutal, devastador e, apesar de tudo, fascinante da guerra do que muitos de seus registros ficcionais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário