Sempre ávido por tramas extraidas da realidade, o diretor Paul Greengrass moldou ao longo dos anos um cinema feito de urgência, de um estilo muito característico e de uma atenção voltada aos esforços do homem comum diante de circunstâncias gigantescas que o oprimem, sejam elas de ordem política (“Domingo Sangrento”), existencial (“Voo United 93”), sociológica (“Capitão Phillips”) ou de ordem física, como neste caso aqui.
“O Ônibus Perdido” é baseado no caso do
Incêndio Camp Fire, ocorrido no verão de 2018, registrado como o maior incêndio
florestal da história.
Seu protagonista é Kevin McKay (Matthew
McCounaghey) um motorista de ônibus escolar na cidade de Paradise, no condado
de Butte, no norte da Califórnia, cujas complicações da vida familiar (o
divórcio com a ex-esposa, o falecimento recente do pai, a relação com o filho,
ressentida pelo distanciamento) começam a comprometer sua vida profissional: Os
problemas com o filho adolescente e com a mãe adoentada (ambos interpretados
pelo filho e pela mãe de Matthew na vida real) o impedem de honrar os horários
de trabalho, o que esgota a paciência de sua supervisora e chefe (Ashlie
Atkinson, de “Margot e O Casamento”).
No dia 8 de novembro de 2018, uma falha nas
torres de energia da região de Feather River Canyon provoca uma série de
faíscas que, devido aos ventos fortes, logo originam um foco de incêndio.
Embora denunciado pelos motoristas da auto-estrada ao corpo de bombeiros da
região, o foco de incêndio acaba não sendo controlado, em parte por que o
acesso aos declives se mostra desafiador aos bombeiros, em parte porque o
próprio vento se encarrega da propagação.
Quando as chamas começam a revelar colunas
imensuráveis de fumaça, os chefes das brigadas de incêndio, mesmo munidos de
alta tecnologia e cobertura via satélite, inicialmente presumem ser mais do que
apenas um incêndio. É o Capitão Martinez (Yul Vazquez), Chefe da Divisão de
Bombeiros da Califórnia, que logo se dá conta de que trata-se de um único e
gigantesco incêndio. Não apenas gigantesco, mas potencializado por uma extrema
facilidade de propagação.
Os fortes ventos não demoram a levar o fogo
para a cidade de Concow, ameaçando seriamente sua população, depois dela,
Magalia e, sem seguida, Paradise.
Quando por fim os alertas de evacuação são
emitidos (um tanto quanto tarde demais), o incêndio alastrou-se de forma tão
rápida que os meios de comunicação municipais de Paradise já haviam sido
comprometidos –instituições, como as escolas, foram avisadas por meios indiretos,
e as pessoas foram instruídas a seguirem para abrigos, afastando-se da Área
Leste, a região de maior risco. Entretanto, um grupo de 23 crianças é deixado
para trás. Quando é requisitado, via rádio PX, um ônibus que estivesse
disponível nas imediações da Área Leste para resgatar as crianças (todos os
demais ônibus, notificados, já haviam partido com suas crianças para os
abrigos), o único disponível no local é o de Kevin –ele havia se atrasado para
levar o veículo à manutenção devido à um problema de febre do filho. Designado
para ir buscar as crianças acompanhadas da Prof. Mary Ludwig (America Ferrera,
de “Barbie”), Kevin deve correr contra o tempo e contra o perigo para
atravessar toda a caótica Área Leste –convertida num verdadeiro inferno devido
à debandada em desespero da população, às chamas que já começavam a consumir
tudo e à fumaça espessa e densa que converteu o dia em noite (na primeira das
inúmeras cenas impressionantes que o filme entrega) –e trazer as crianças de
volta para seus pais aflitos.
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