terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

Margot e O Casamento

A relação entre as irmãs Margot (Nicole Kidman com sua mescla habitual de beleza ofuscante e empenho louvável) e Pauline (Jennifer Jason Leight, igualmente eficaz) não poderia ter mais tensão e sentimentos conflitantes –e esse é um terreno no qual o diretor Noah Baumbach se mostra bastante confortável em explorar.
Realizador de obras ora magníficas, ora pedantes, mas sempre impregnadas da predisposição de analisar a fundo as particularidades de seus personagens, como “Francis Ha”, “Enquanto Somos Jovens” e “A Lula e A Baleia”, Baumbach tem apreço particular pelo tipo de estudo psicológico feito na cinematografia europeia –daí a similaridade de alguns de seus filmes com obras do cinema francês –incluindo a novelle vague –em “Frances Ha” e em muitos dos diálogos de exposição cultural, intelectual e sentimental constantemente flagrados aqui.
Pauline está prestes a casar. Oposto quase perfeito da sofisticada irmã mais velha, Margot, com a qual havia anos não falava, ela a recebe vinda da cosmopolita Nova York na pequena cidadezinha onde ela e o noivo, Malcolm (Jack Black), vão se casar.
Margot chega junto do filho adolescente Claude (Zane Pais), ocultando alguns segredos –o divórcio com o marido, Jim (John Turturro) é iminente –e trazendo desconfortáveis verdades familiares que sua presença trata de tornarem irreprimíveis.
Apesar do clima pretenso de amenidade e descontração, há tensão toda vez que Margot e Pauline está juntas –e os ressentimentos com frequência se manifestam nos diálogos.
Margot não aprova Malcolm, e suas afirmações a esse respeito perdem em recato conforme o convívio aumenta. O passado das duas, ao lado do pai abusivo e intolerável, também começa a ser esmiuçado, revelando as razões para alguns desses comportamentos.
Oscilando com vibração típica de filme independente entre comédia e drama, “Margot e O Casamento” parece contentar-se em registrar duas grandes atrizes fazendo seus esforços para alcançar registros humanos brilhantemente estudados, e nisso se satisfaz.
Acontece de outros detalhes perderem assim sua importância diante desse ‘registro do banal’ que Noah Baumbach quer fazer –e que faz parte do objetivo geral de toda sua filmografia, mas que aqui, pela primeira vez, corre o risco de soar de fato irrelevante.

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