A relação entre as irmãs Margot (Nicole Kidman
com sua mescla habitual de beleza ofuscante e empenho louvável) e Pauline
(Jennifer Jason Leight, igualmente eficaz) não poderia ter mais tensão e
sentimentos conflitantes –e esse é um terreno no qual o diretor Noah Baumbach
se mostra bastante confortável em explorar.
Realizador de obras ora magníficas, ora
pedantes, mas sempre impregnadas da predisposição de analisar a fundo as
particularidades de seus personagens, como “Francis Ha”, “Enquanto Somos Jovens”
e “A Lula e A Baleia”, Baumbach tem apreço particular pelo tipo de estudo
psicológico feito na cinematografia europeia –daí a similaridade de alguns de
seus filmes com obras do cinema francês –incluindo a novelle vague –em “Frances
Ha” e em muitos dos diálogos de exposição cultural, intelectual e sentimental
constantemente flagrados aqui.
Pauline está prestes a casar. Oposto quase
perfeito da sofisticada irmã mais velha, Margot, com a qual havia anos não
falava, ela a recebe vinda da cosmopolita Nova York na pequena cidadezinha onde
ela e o noivo, Malcolm (Jack Black), vão se casar.
Margot chega junto do filho adolescente Claude
(Zane Pais), ocultando alguns segredos –o divórcio com o marido, Jim (John
Turturro) é iminente –e trazendo desconfortáveis verdades familiares que sua
presença trata de tornarem irreprimíveis.
Apesar do clima pretenso de amenidade e
descontração, há tensão toda vez que Margot e Pauline está juntas –e os
ressentimentos com frequência se manifestam nos diálogos.
Margot não aprova Malcolm, e suas afirmações a
esse respeito perdem em recato conforme o convívio aumenta. O passado das duas,
ao lado do pai abusivo e intolerável, também começa a ser esmiuçado, revelando
as razões para alguns desses comportamentos.
Oscilando com vibração típica de filme
independente entre comédia e drama, “Margot e O Casamento” parece contentar-se
em registrar duas grandes atrizes fazendo seus esforços para alcançar registros
humanos brilhantemente estudados, e nisso se satisfaz.
Acontece de outros detalhes
perderem assim sua importância diante desse ‘registro do banal’ que Noah
Baumbach quer fazer –e que faz parte do objetivo geral de toda sua filmografia,
mas que aqui, pela primeira vez, corre o risco de soar de fato irrelevante.
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