Sempre fiel ao seu empenhado olhar sob o
panorama sócio-político mundial, Paul Greengrass, depois de ter assombrado meio
mundo com um filme comercial espetacular –“A Supremacia Bourne” –resolveu voltar
sua atenção para um dos grandes acontecimentos recentes da História Americana.
E um dos mais traumáticos também.
Tanto que, ao ser lançado, em 2006, “Vôo United
93” até levantou a questão do quão distante no tempo estavam os acontecimentos
relativos ao 11 de Setembro de 2001, para que a reconstituição cinematográfica
deles não soasse como sensacionalismo ou exploração.
Por sorte, o trabalho de Greengrass conserva
sensatez e veemência o suficientes para se manter absolutamente em equilíbrio
com o devido respeito às vítimas e o comprometimento de ordem quase documental
aos fatos –mesmo aqueles que os realizadores podem apenas supor, dando aqui um
respaldo ficcional que não destoa da solidez de todo o resto.
Numa narrativa que desde o início exige nervos
de aço do expectador, Greengrass começa seu filme na madrugada do dia 11 de
setembro de 2001.
Aqueles que sabemos, virão a ser os terroristas
envolvidos surgem rezando, numa tensa preparação para o que está por vir.
Os passageiros chegam corriqueiramente ao aeroporto.
Os técnicos de vôo –cujos presentes na cabine de controle do aeroporto vêem a
ser interpretados pelos técnicos reais que estavam presente lá naquele dia
–iniciam uma jornada horária que tinha tudo para ser como qualquer outra.
É lá pelas tantas, com o vôo united 93 já no ar
que coisas inesperadas começam a acontecer. Quatro aviões específicos são
sistematicamente tomados e cortam a comunicação pouco antes de desaparecer e,
no vôo 93 em especial, vemos que a cabine do piloto é tomada pelos terroristas
que substituem o piloto, ostentando uma antecipada capacidade de pilotar um
boeing.
Ainda aturdidos pelo absurdo da circunstância,
os técnicos de vôo testemunham o impossível acontecer: Dois dos boeings
sequestrados aparecem no céu de Nova York e, um seguido do outro, se chocam
contra cada uma das torres do World Trade Center.
Caos e pânico se seguem registrados com primor
irrestrito e objetividade econômica pelo diretor Greengrass.
Pouco a pouco, a narrativa vai se concentrando
cada vez mais no ponto de vista dos ocupantes do vôo 93: Eles testemunham a
tomada do avião, passivos e estarrecidos. Depois, recebem gradativas mensagens
de celular de familiares e conhecidos que os atualizam dos fatos terríveis que
se desdobram. Quatro aviões aparentemente foram sequestrados. Dois se chocaram
contra o World Trade Center. Um, ao que parece, colidiu contra uma das paredes
do Pentágono. O quarto é onde eles estão; supõe-se que o alvo seja a
Casabranca.
Greengrass registra então a escolha impossível
à qual os passageiros foram submetidos. Embora o diretor não se furte de mostra
que muitos deles tinham, sim, esperança de tomar o avião, assumir seu controle,
pousá-lo e sobreviver, fica bem claro que a decisão que tomaram foi a de não se
render ao terror, e optar assim por um sacrifício quase tão radical quanto
aquele que seus algozes estavam dispostos a fazer.
Num momento que é o ápice da ascensão frénetica
do filme, os passageiros mais aptos fisicamente se unem, e primeiro dominam o
terrorista que os acuava com a ameaça de uma bomba presa ao seu corpo –ela era
falsa –e, em seguida, rumam para a cabine onde tentam todos arrombar a porta.
Uma sequência de tirar o fôlego dirigida e montada com maestria.
Depois dela, só resta ao filme de Greengrass o
bom senso do silêncio e da tela preta que se segue –uma elegia digna àqueles
que se sacrificaram por algo maior que eles.
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