quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Vôo United 93


Sempre fiel ao seu empenhado olhar sob o panorama sócio-político mundial, Paul Greengrass, depois de ter assombrado meio mundo com um filme comercial espetacular –“A Supremacia Bourne” –resolveu voltar sua atenção para um dos grandes acontecimentos recentes da História Americana.
E um dos mais traumáticos também.
Tanto que, ao ser lançado, em 2006, “Vôo United 93” até levantou a questão do quão distante no tempo estavam os acontecimentos relativos ao 11 de Setembro de 2001, para que a reconstituição cinematográfica deles não soasse como sensacionalismo ou exploração.
Por sorte, o trabalho de Greengrass conserva sensatez e veemência o suficientes para se manter absolutamente em equilíbrio com o devido respeito às vítimas e o comprometimento de ordem quase documental aos fatos –mesmo aqueles que os realizadores podem apenas supor, dando aqui um respaldo ficcional que não destoa da solidez de todo o resto.
Numa narrativa que desde o início exige nervos de aço do expectador, Greengrass começa seu filme na madrugada do dia 11 de setembro de 2001.
Aqueles que sabemos, virão a ser os terroristas envolvidos surgem rezando, numa tensa preparação para o que está por vir.
Os passageiros chegam corriqueiramente ao aeroporto. Os técnicos de vôo –cujos presentes na cabine de controle do aeroporto vêem a ser interpretados pelos técnicos reais que estavam presente lá naquele dia –iniciam uma jornada horária que tinha tudo para ser como qualquer outra.
É lá pelas tantas, com o vôo united 93 já no ar que coisas inesperadas começam a acontecer. Quatro aviões específicos são sistematicamente tomados e cortam a comunicação pouco antes de desaparecer e, no vôo 93 em especial, vemos que a cabine do piloto é tomada pelos terroristas que substituem o piloto, ostentando uma antecipada capacidade de pilotar um boeing.
Ainda aturdidos pelo absurdo da circunstância, os técnicos de vôo testemunham o impossível acontecer: Dois dos boeings sequestrados aparecem no céu de Nova York e, um seguido do outro, se chocam contra cada uma das torres do World Trade Center.
Caos e pânico se seguem registrados com primor irrestrito e objetividade econômica pelo diretor Greengrass.
Pouco a pouco, a narrativa vai se concentrando cada vez mais no ponto de vista dos ocupantes do vôo 93: Eles testemunham a tomada do avião, passivos e estarrecidos. Depois, recebem gradativas mensagens de celular de familiares e conhecidos que os atualizam dos fatos terríveis que se desdobram. Quatro aviões aparentemente foram sequestrados. Dois se chocaram contra o World Trade Center. Um, ao que parece, colidiu contra uma das paredes do Pentágono. O quarto é onde eles estão; supõe-se que o alvo seja a Casabranca.
Greengrass registra então a escolha impossível à qual os passageiros foram submetidos. Embora o diretor não se furte de mostra que muitos deles tinham, sim, esperança de tomar o avião, assumir seu controle, pousá-lo e sobreviver, fica bem claro que a decisão que tomaram foi a de não se render ao terror, e optar assim por um sacrifício quase tão radical quanto aquele que seus algozes estavam dispostos a fazer.
Num momento que é o ápice da ascensão frénetica do filme, os passageiros mais aptos fisicamente se unem, e primeiro dominam o terrorista que os acuava com a ameaça de uma bomba presa ao seu corpo –ela era falsa –e, em seguida, rumam para a cabine onde tentam todos arrombar a porta. Uma sequência de tirar o fôlego dirigida e montada com maestria.
Depois dela, só resta ao filme de Greengrass o bom senso do silêncio e da tela preta que se segue –uma elegia digna àqueles que se sacrificaram por algo maior que eles.

Nenhum comentário:

Postar um comentário