quarta-feira, 29 de agosto de 2018

A Enfermeira Betty


Indissociavelmente relacionado às suas obras agressivas sobre a oposição dos sexos –e, não raro, acusado de misoginia –o diretor Neil LaButte, ao adentrar os anos 2000 buscou livrar-se desse rótulo em algumas obras de apelo e temática inesperada, esforçando-se, contudo, em manter um discurso que soasse relevante.
“A Enfermeira Betty” padece dessa incongruência na qual um diretor de perspicácia cultural, intelectual e artística parece usar de uma premissa algo absurda para jogar conversa fora.
Empregando alguns maneirismos que, mais tarde, ela adotaria para compor Bridget Jones, a ótima Renee Zellwegger une graciosidade e um contundente senso de imersão para viver a sonhadora Betty, uma jovem garçonete casada com o rude, infiel e detestável Del (Aaron Eckhart, ator-fetiche de LaButte). Betty é fã incondicional de uma novela chamada “Razões Para Amar” –que ela assiste para alimentar sua obsessão pelo protagonista Dr. David Ravell (Gregg Kinnear).
A guinada na vida de Betty ocorre quando seu marido realiza transações ilegais envolvendo drogas e acaba sendo visitado por dois assassinos de aluguel, vividos de forma nada convencional por Morgan Freeman e Chris Rock.
Sem que eles percebam, Betty testemunha o assassinato do próprio marido, mas não é pânico a sua reação: Numa explicação não muito convincente, Betty ‘apaga’ o ocorrido de sua mente e passa a viver dentro da realidade da novela que assistia –e isso a leva a pegar a estrada em direção à Los Angeles, onde planeja encontrar-se com o próprio Dr. Ravell; que ela agora acredita ser não somente um personagem real, como também seu ex-noivo (!).
Em seu encalço, estão os dois assassinos contratados, já que a droga que justificou toda a confusão está dentro do carro de Betty –contudo, ao longo dessa perseguição, o assassino de aluguel mais velho, Charlie (personagem de Morgan Freeman) passa a alimentar certo fascínio por ela.
Frouxo no gênero ao qual prentende pertencer (ostenta seriedade demais para uma comédia; cinismo demais para um romance; galhofa demais para um drama) e algo suficiente nos expedientes psicológico que se mete a adotar. “A Enfermeira Betty” se faz memorável única e exclusivamente graças à magnífica presença de Renée Zellwegger: Antes de ganhar este inesperado papel protagonista onde encara grandes atores como Morgan Freeman e Gregg Kinnear, ela só havia aparecido como mais uma mocinha romântica em “Jerry Maguire-A Grande Virada”.
Aqui sua atuação é um achado do início ao film, equilibrando nuances delicadas de uma personagem difícil, nada inteligível e ainda assim desafiadora, a qual ela consegue tirar de letra e ainda trazer para si a simpatia do expectador.
Pena o filme a que ela pertence não estar à altura de sua atriz principal.

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