Indissociavelmente relacionado às suas obras
agressivas sobre a oposição dos sexos –e, não raro, acusado de misoginia –o
diretor Neil LaButte, ao adentrar os anos 2000 buscou livrar-se desse rótulo em
algumas obras de apelo e temática inesperada, esforçando-se, contudo, em manter
um discurso que soasse relevante.
“A Enfermeira Betty” padece dessa incongruência
na qual um diretor de perspicácia cultural, intelectual e artística parece usar
de uma premissa algo absurda para jogar conversa fora.
Empregando alguns maneirismos que, mais tarde,
ela adotaria para compor Bridget Jones, a ótima Renee Zellwegger une
graciosidade e um contundente senso de imersão para viver a sonhadora Betty,
uma jovem garçonete casada com o rude, infiel e detestável Del (Aaron Eckhart,
ator-fetiche de LaButte). Betty é fã incondicional de uma novela chamada
“Razões Para Amar” –que ela assiste para alimentar sua obsessão pelo
protagonista Dr. David Ravell (Gregg Kinnear).
A guinada na vida de Betty ocorre quando seu
marido realiza transações ilegais envolvendo drogas e acaba sendo visitado por
dois assassinos de aluguel, vividos de forma nada convencional por Morgan
Freeman e Chris Rock.
Sem que eles percebam, Betty testemunha o
assassinato do próprio marido, mas não é pânico a sua reação: Numa explicação
não muito convincente, Betty ‘apaga’ o ocorrido de sua mente e passa a viver
dentro da realidade da novela que assistia –e isso a leva a pegar a estrada em
direção à Los Angeles, onde planeja encontrar-se com o próprio Dr. Ravell; que
ela agora acredita ser não somente um personagem real, como também seu ex-noivo
(!).
Em seu encalço, estão os dois assassinos
contratados, já que a droga que justificou toda a confusão está dentro do carro
de Betty –contudo, ao longo dessa perseguição, o assassino de aluguel mais
velho, Charlie (personagem de Morgan Freeman) passa a alimentar certo fascínio
por ela.
Frouxo no gênero ao qual prentende pertencer
(ostenta seriedade demais para uma comédia; cinismo demais para um romance;
galhofa demais para um drama) e algo suficiente nos expedientes psicológico que
se mete a adotar. “A Enfermeira Betty” se faz memorável única e exclusivamente
graças à magnífica presença de Renée Zellwegger: Antes de ganhar este
inesperado papel protagonista onde encara grandes atores como Morgan Freeman e
Gregg Kinnear, ela só havia aparecido como mais uma mocinha romântica em “Jerry
Maguire-A Grande Virada”.
Aqui sua atuação é um achado do início ao film,
equilibrando nuances delicadas de uma personagem difícil, nada inteligível e
ainda assim desafiadora, a qual ela consegue tirar de letra e ainda trazer para
si a simpatia do expectador.
Pena o filme a que ela pertence não estar à
altura de sua atriz principal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário