quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Bonnie & Clyde - Uma Rajada de Balas


Prova evidente da importância que este clássico de Arthur Penn conquistou para o cinema é a atitude dos membros da Academia de Artes Cinematográficas (assim como os organizadores da cerimônia do Oscar) da época em que foi lançado (1968), onde saiu somente com os prêmios de Melhor Fotografia e Atriz Coadjuvante e os do ano de 2017, quando reconheceram seu significado singular chamando seu casal protagonistas, Warren Beatty e Faye Dunaway, para apresentar o prêmio principal –e eles acabaram envolvidos indiretamente naquele vexame de envelopes trocados o quê levou o Oscar a chamá-los para apresentar o mesmo prêmio no ano seguinte, mas, enfim, essa é outra história...
Clássico como poucos filmes conseguirem a proeza de se tornar –a ponto de ter atrelado ao seu nome um arquétipo usado até por quem nem viu e nem conhece o filme –“Bonnie & Clyde” é tão sensacional, divertido e comercialmente eufórico que essas qualidades populares automaticamente fizeram alguns críticos duvidar de sua perenidade artística.
O filme de Penn acompanha com um interesse desigual a vida algo bucólica de Bonnie Parker (a quem a belíssima Faye Dunaway empresta uma caracterização irrepreensível), garota americana na década de 1930 tentando equilibrar-se entre a pobreza, a monotonia social e as limitações típicas de ser uma mulher no período.
Ela flerta com o inicialmente estranho Clyde Barrow (Warren Beatty, fantástico) e, embora no princípio ele não lhe passe a segurança de um relacionamento duradouro, logo essas impressões são deixadas para trás das maneiras mais inesperadas possíveis: Clyde é um foragido assaltante de bancos (o simbolismo fálico de sua arma na primeira vez que mostra à ela tem tudo a ver com isso). Ele vive de cidade em cidade, sempre arriscadamente e sse sabor de aventura prometido por Clyde fascina Bonnie e ela junta-se a ele.
A medida que o casal vai desbravando os EUA, os outros personagens somam-se a eles: O jovem arredio e empolgado C. W. Moss (Michael J. Pollard), o próprio irmão de Clyde, Buck (Gene Hackman) e sua esposa Blanche (Estelle Parsons, a ganhadora do Oscar de Coadjuvante).
Eles ganham um antagonista na pele do xerife Hammer (Denver Pyle), o quê porá um ponto final em sua vida de assaltos.
Mais do que fazer um tratado moral sobre a criminalidade, Arthur Penn cria ao redor de seus protagonistas uma sedutora névoa ambígua de liberdade e rebeldia. É impossível não se deixar de cativar por esse casal protagonista que o diretor registra como párias fora do sistema em busca de uma felicidade desigual cercados por um mundo de cidadezinhas medíocres e estradas com campos verdejantes, ou até mesmo por amor tão puro e fulminante –ainda que a narrativa ocasionalmente ironize uma certa insatisfação sexual.
Ao refletir certas facetas de contestação de uma contracultura que então nascia, o diretor Arthur Penn moldou um das primeiras obras do cinema onde a ação adquiria importância narrativa e não como sequências à parte do contexto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário