terça-feira, 22 de setembro de 2015

O Abrigo

O quê é "O Abrigo"? Uma parábola sobre a paranóia norte-americana pós-11 de setembro? Um conto lúgubre sobre as armadilhas da esquizofrenia? Um trabalho meticuloso do diretor Jeff Nichols onde, a exemplo de seu anterior "Shotgun Stories" ele aprimora seu estilo e sua visão do cinema e do ser humano para conjugar uma narrativa que ecoe suas próprias inquietações?
Sim. "O Abrigo" é isso tudo, e como em muitos casos de grandes filmes que ultrapassam sua mera definição, ele é muito mais.
Há no trabalho de Jeff Nichols um eco curioso e persistente que lembra, no paradoxal estranhamento de sua ambientação comum, o M. Night Shyamalan de "Sinais" ou "A Vila". É um autor que não renega o fantástico em suas possibilidades, mas que também não o vulgariza.
O esplêndido trabalho de seus atores é o chão firme no qual Nichols sustenta o pesadelo que desenlaça. Michael Shannon é fantástico. É vulnerável e envolvente, mas carrega uma linha de desequilíbrio em sua composição, algo que de fato pode estar relacionado àquelas visões de tempestade.
Por quê seriam tão reais aqueles sonhos? São eles premonições do que está por vir? Ou delírios iminentes e cada vez mais perigosos (para os outros ao seu redor, inclusive) de uma esquizofrenia, distúrbio, aliás que existe em seu histórico familiar.
É nesse clássico equilíbrio entre aquilo que se acredita ser (e acredita-se estar realmente vendo) e aquilo que, no final das contas, verdadeiramente é -e cuja resposta pode nos ser ingrata -que se encontra a estrutura de "O Abrigo".
Sua encenação é um espetáculo.
Desde as primeiras cenas, acreditamos piamente naquela família, formada pelo pai, a mãe e a filha surda-muda. Não só pelo trabalho de Michael Shannon, como também pela brilhante presença de Jessica Chastain. Se ela estava extraordinária em "A Árvore da Vida" e digna de um Oscar no maravilhoso "Histórias Cruzadas", aqui ela faz jus ao frisson que vem causando. Sua personagem é cativante, firme, cataliza brilhantemente bem as dúvidas do expectador e ainda é o pólo moral do filme.
Seria algo fácil de cair no caricato, no clichê, talvez até no irritante, mas Jessica dá a essa mulher uma dimensão humana e uma personalidade que duelam magnificamente com a dubiedade de Shannon.

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