O quê é "O Abrigo"? Uma parábola
sobre a paranóia norte-americana pós-11 de setembro? Um conto lúgubre sobre as
armadilhas da esquizofrenia? Um trabalho meticuloso do diretor Jeff Nichols
onde, a exemplo de seu anterior "Shotgun Stories" ele aprimora seu
estilo e sua visão do cinema e do ser humano para conjugar uma narrativa que
ecoe suas próprias inquietações?
Sim. "O Abrigo" é isso tudo, e como
em muitos casos de grandes filmes que ultrapassam sua mera definição, ele é
muito mais.
Há no trabalho de Jeff Nichols um eco curioso e
persistente que lembra, no paradoxal estranhamento de sua ambientação comum, o
M. Night Shyamalan de "Sinais" ou "A Vila". É um autor que
não renega o fantástico em suas possibilidades, mas que também não o vulgariza.
O esplêndido trabalho de seus atores é o chão
firme no qual Nichols sustenta o pesadelo que desenlaça. Michael Shannon é
fantástico. É vulnerável e envolvente, mas carrega uma linha de desequilíbrio
em sua composição, algo que de fato pode estar relacionado àquelas visões de
tempestade.
Por quê seriam tão reais aqueles sonhos? São
eles premonições do que está por vir? Ou delírios iminentes e cada vez mais
perigosos (para os outros ao seu redor, inclusive) de uma esquizofrenia,
distúrbio, aliás que existe em seu histórico familiar.
É nesse clássico equilíbrio entre aquilo que se
acredita ser (e acredita-se estar realmente vendo) e aquilo que, no final das
contas, verdadeiramente é -e cuja resposta pode nos ser ingrata -que se
encontra a estrutura de "O Abrigo".
Sua encenação é um espetáculo.
Desde as primeiras cenas, acreditamos piamente
naquela família, formada pelo pai, a mãe e a filha surda-muda. Não só pelo
trabalho de Michael Shannon, como também pela brilhante presença de Jessica
Chastain. Se ela estava extraordinária em "A Árvore da Vida" e digna
de um Oscar no maravilhoso "Histórias Cruzadas", aqui ela faz jus ao
frisson que vem causando. Sua personagem é cativante, firme, cataliza
brilhantemente bem as dúvidas do expectador e ainda é o pólo moral do filme.
Seria algo fácil de cair no
caricato, no clichê, talvez até no irritante, mas Jessica dá a essa mulher uma
dimensão humana e uma personalidade que duelam magnificamente com a dubiedade
de Shannon.
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