sábado, 10 de outubro de 2015

Martha Marcy May Marlene

O olhar da câmera do jovem diretor Sean Durkin busca um registro frio de ambientes por meio dos quais a impressão de ar rarefeito irá igualar o transtorno íntimo da protagonista.
Seu registro passa longe do que se pressupõe por convencional, e seu propósito é o questionar normas narrativas que damos como tão certas.
A jovem Martha (a acachapante Elizabeth Olsen), durante dois anos, perdeu contato com a família (que por motivos trágicos e nunca devidamente esclarecidos, resume-se a sua irmã mais velha, vivida por Sarah Paulson).
Nesse tempo, ela esteve no que parece ser uma espécie de seita ou culto, onde algumas jovens incluindo ela, por livre e espontânea vontade submetiam-se à uma estranha e totalitária filosofia de vida, de natureza brutalmente patriarcal, controlada pelo carismático e ameaçador Patrick (John Hawkes, excelente).
Lá, a rotina de Martha –que ao ser recebida ganhou outro nome –envolvia submissão forçada, estupros e uma estranha noção de liberdade.
A verve inteligente, de valores cartesianos, de Patrick revelou-se convincente a despeito de muitos momentos questionáveis que ela testemunhou.
Somente após uma tragédia, o discurso de Patrick soou, para Martha, aquilo que afinal ele era: Uma doutrina demagógica e torpe, declamada por alguém cuja loquacidade servia apenas para disfarçar o próprio egocentrismo.
Uma vez livre desse julgo, ela retorna ao convívio com a irmã, só para descobrir que o período em que esteve distante deixou profundas e poderosas seqüelas em seu psicológico. 
Indo e vindo no tempo e embaralhando a percepção cronológica tanto para sua protagonista quanto para a platéia, Sean Durkin, a partir da premissa desigual e intrigante de seu curta-metragem "Mary Lust Seen", cria um filme igualmente disperso, enigmático e desafiador que muito lembra Michael Haneke e seu "Código Desconhecido". 
Mas seu grande mérito é mesmo a atuação rica e primorosa da jovem Elizabeth Olsen.

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