sexta-feira, 16 de outubro de 2015

O Lado Bom da Vida

Me dei conta que, na resenha de "Trapaça", deixei de mencionar outro filme do início da carreira de David O' Russell: "A Mão do Desejo" um trabalho estranho, independente, sobre um jovem que, resumindo grosseiramente, pratica incesto com sua mãe.
Por esse ângulo, é bastante evidente o grande interesse que O' Russell demonstra em sua filmografia por lunáticos, ou no mínimo, sua irrestrita simpatia pela loucura.
Isso fica muito claro na sua adaptação cinematográfica para o best-seller "O Lado Bom da Vida", de Matthew Quick; um livro que já era, também ele, uma declaração de amor à disfunção e à loucura.
Ironicamente, O' Russell expressa essa sua simpatia adulteram radicalmente as situações (e até mesmo personagens) do livro, modificando bastante o material.
É, porém, com propriedade que ele o faz: A narrativa do filme sana todas as incongruências do livro enxugando seus eventos e dando-lhes um arco sólido e bem equilibrado.
Após oito meses, Pat Solitano (Bradley Cooper, surpreendendo num papel que devia ter sido de Mark Walhberg)) sai do hospital psiquiátrico onde esteve internado depois da catastrófica crise bipolar que o colocou lá, e retoma o convívio com os pais (Robert De Niro e Jackie Weaver) junto dos quais vai morar e com seus amigos, planejando inclusive reatar com a esposa Nikki, que nunca mais viu desde então. Mas, ao que tudo indica, o caminho para se tornar alguém melhor, e assim chegar até Nikki, passa por ajudar a tresloucada Tiffany (Jennifer Lawrence, encantadora), o quê inclui ser seu parceiro num vindouro concurso de dança.
O' Russell era, por toda sua experiência, o cara perfeito para transpor o livro de Mathew Quick para o cinema, terminou realizando uma adaptação travessa e um tanto livre da obra, onde seu estilo pouco usual obtem resultados brilhantes (não a toa, teve oito indicações ao Oscar, feito um tanto raro para comédias). Como costuma ocorrer num filme de O' Russell, o elenco é um caso à parte: Bradley Cooper nunca esteve tão bem; De Niro ressurge formidável em cena, após muito tempo sem entregar uma atuação notável; mas o que rouba o show é a interpretação convincente e hipnótica de Jennifer Lawrence, que por este filme venceu o Oscar de Melhor Atriz num ano em que a categoria tinha concorrentes brilhantes, embora Jennifer seja, a rigor, coadjuvante de Bradley Cooper como todos os outros personagens (ainda que roube totalmente a cena dele...).

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