O diretor John Hillcoat (do fabuloso “A Estrada”)
lança um olhar peculiar sobre as engrenagens da lenda e as matizes que
acrescentam cor quando tal folclore se permite vislumbrar pelo prisma da
realidade.
Em sua ânsia de observação, ele perscruta
diversas facetas: A lenda enquanto mitologia nas mentes mais sugestionáveis; a
vaidade inquieta dos indivíduos no centro da questão; os esforços intrínsecos
dos cínicos para não ceder ao deslumbramento –e o conseqüente conflito que leva
á tentativa de questionar o que é contado.
A fim de mover essa dissertação carregada de
tantas facetas, Hillcoat apropriou-se de uma trama real: Durante a década de
1930, sob o regime da Lei Seca, o condado de Franklin torna-se o palco do
próspero negócio dos três irmãos Boudurant –Forrest (Tom Hardy, ótimo), o líder
taciturno; Howard (Jason Clark, um tanto quanto mal aproveitado), o grandalhão;
e Jack (Shia LaBeouf, fora do tom), o caçula impetuoso –que passam a destilar
bebida e vendê-la ilegalmente para toda a região.
A atividade atrai o perigoso policial
assistente Rakes (Guy Pierce), vindo de Chicago, disposto a por um fim na lenda
mítica que cerca os Boudurant.
O resultado do esforço de
John Hillcoat acaba orquestrando um vigoroso filme de gangster –ainda que excessivo
em sua sanguinolência –ambientado em majestosa desolação a exemplo de seu
trabalho anterior, e inquisitivo na maneira ressonante e ocasionalmente
desmistificadora com que ele aborda a trama elaborada. Seu elenco parece em
sintonia com esses propósitos entregando interpretações objetivas e perspicazes
em suas nuances, como comprovam as extraordinárias presenças de Tom Hardy e
Jessica Chastain (linda e com uma estupenda cena de nudez). O ponto fraco do
filme fica por conta da presença destoada e superficial de Shia LaBeouf. Uma
pena já que seu personagem irritante é colocado como protagonista em detrimento
dos outros, mais interessantes.
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