Casal francês de classe média alta fica apreensivo
ao receber uma fita onde são gravados por alguém plantado à porta de sua casa.
O marido (Daniel Auteuil) fica particularmente alarmado com fato de que alguém
impunemente espiona a ele e à esposa (Juliette Binoche), e busca meios nada
sutis de encontrar o responsável. Seu suspeito número 1 é um homem de descendência
argelina que, quando criança, quase foi adotado por seus pais, mas acabou no
orfanato por sua causa.
O filme esmiúça as personalidades conflitantes
dos dois sob o mistério onipresente da identidade do autor das fitas.
A partir de uma trama cuja premissa lembra o início
do espetacular "A Estrada Perdida" de David Lynch (merecedor, aliás,
de uma resenha!), o diretor Michael Haneke elabora com enigmática precisão essa
sua observação sobre o estado das coisas numa burguesa sociedade francesa que é
também um paralelo com a situação dos cidadãos do mundo inteiro em geral, e da
indisposição existencial entre França e Argélia em particular –embora não hajam
indicativos factuais, esta pode ser uma menção, da parte de Haneke, ao
sentimento de culpa do povo francês devido ao massacre de imigrantes argelinos
promovido por policias na Paris de 1961.
Assim sendo, um olhar que é
também um tratado cinematográfico.
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