Eu me lembro de assistir a muitos filmes na TV
durante a minha infância.
Eu me lembro de que alguns deles foram
simplesmente sensacionais. Essenciais para a minha formação como cinéfilo
(destaco o "Episódio 4" de "Star Wars", que quando assisti
era apenas chamado de "Guerra Nas Estrelas). Alguns desses filmes se
perderam no tempo -era, afinal, inevitável -e desapareceram na transposição das
mídias (da TV para o VHS, VHS para DVD, DVD para Blu-Ray...) e se tornaram
raridades, isso quando não são absolutamente desconhecidos.
Um desses filmes era "Esses Homens
Maravilhosos e Suas Máquinas Voadoras", que tive a oportunidade de rever
no DVD. Na minha lembrança ele era espetacular: Engraçadíssimo, cheio de cenas
que me pareceram à época memoráveis. Mais do que lembrar do filme, eu lembrava
do meu fascínio quando o assisti. Mas, há uma certa diferença entre aquilo que
lembramos e o quê, de fato, é.
Dizem que a nostalgia é uma transfiguração
poética que nossa mente faz do passado (como Frederico Fellini tão bem ilustrou
no fenomenal "Amarcord"), e muitos foram os filmes daquela época que
assisti e descobri, com certa decepção, que não eram tão incríveis como eu me
recordava (mas, por outro lado, alguns continuavam fantásticos, sejamos
justos!).
O receio de ter esse tipo de decepção, por
alguma razão, me acompanhava quando pensei em assistir à "Esses Homens
Maravilhosos...". Acho que eu não queria me desfazer de lembranças tão
boas atreladas a esse filme que eu possuía. Mas... enfim.
Filme assistido e... bem, minha constatação é
que, sim, as coisas mudaram um pouco. Minha visão mudou. O modo como eu assisto
um filme hoje é completamente diferente da forma como assistia quando era
criança e isso, penso eu, é inerente a todos nós.
O início continua magistral, com aquelas cenas
documentais em tom sépia especulando, com humor non-sense e delicioso, os
primórdios do ser humano em sua tentativa de voar: É um dos começos de filmes
mais geniais do cinema! No fim das contas, o filme não tem tanta comédia como
eu me lembrava. A trama, que gira ao redor de uma corrida aérea de Londres à
Paris nos idos de 1910, reunindo uma série de aviadores de diferentes índoles e
nacionalidades, tem lances rocambolescos que, para meu eu expectador por volta
dos 10 anos de idade, passaram completamente batidos. O roteiro (que descobri,
foi até indicado ao Oscar em 1965) é criterioso e muito mais comedido do que eu
pensava (na minha memória, para se ter uma ideia, eu tinha uma impressão
similar ao genial e devastador "Deu A Louca No Mundo"), e seu vilão
-interpretado com fleuma e excelência por Terry Thomas -não lembrava tanto
assim o Dick Vigarista do desenho animado "Corrida Maluca" (na
verdade, quem lembra ele de fato é o Jack Lemmon em "A Corrida do
Século"!).
Era um filme um pouco mais datado, um pouco,
talvez, até mais adulto do que me recordava. Mas ainda era uma filme
sensacional. Desses que restaura sua fé no cinema após ver tantas bobagens.
No final, minhas memórias
de infância continuaram intactas (e felizmente, muito bem representadas).
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