quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Esses Homens Maravilhosos e Suas Máquinas Voadoras

Eu me lembro de assistir a muitos filmes na TV durante a minha infância.
Eu me lembro de que alguns deles foram simplesmente sensacionais. Essenciais para a minha formação como cinéfilo (destaco o "Episódio 4" de "Star Wars", que quando assisti era apenas chamado de "Guerra Nas Estrelas). Alguns desses filmes se perderam no tempo -era, afinal, inevitável -e desapareceram na transposição das mídias (da TV para o VHS, VHS para DVD, DVD para Blu-Ray...) e se tornaram raridades, isso quando não são absolutamente desconhecidos.
Um desses filmes era "Esses Homens Maravilhosos e Suas Máquinas Voadoras", que tive a oportunidade de rever no DVD. Na minha lembrança ele era espetacular: Engraçadíssimo, cheio de cenas que me pareceram à época memoráveis. Mais do que lembrar do filme, eu lembrava do meu fascínio quando o assisti. Mas, há uma certa diferença entre aquilo que lembramos e o quê, de fato, é.
Dizem que a nostalgia é uma transfiguração poética que nossa mente faz do passado (como Frederico Fellini tão bem ilustrou no fenomenal "Amarcord"), e muitos foram os filmes daquela época que assisti e descobri, com certa decepção, que não eram tão incríveis como eu me recordava (mas, por outro lado, alguns continuavam fantásticos, sejamos justos!).
O receio de ter esse tipo de decepção, por alguma razão, me acompanhava quando pensei em assistir à "Esses Homens Maravilhosos...". Acho que eu não queria me desfazer de lembranças tão boas atreladas a esse filme que eu possuía. Mas... enfim.
Filme assistido e... bem, minha constatação é que, sim, as coisas mudaram um pouco. Minha visão mudou. O modo como eu assisto um filme hoje é completamente diferente da forma como assistia quando era criança e isso, penso eu, é inerente a todos nós.
O início continua magistral, com aquelas cenas documentais em tom sépia especulando, com humor non-sense e delicioso, os primórdios do ser humano em sua tentativa de voar: É um dos começos de filmes mais geniais do cinema! No fim das contas, o filme não tem tanta comédia como eu me lembrava. A trama, que gira ao redor de uma corrida aérea de Londres à Paris nos idos de 1910, reunindo uma série de aviadores de diferentes índoles e nacionalidades, tem lances rocambolescos que, para meu eu expectador por volta dos 10 anos de idade, passaram completamente batidos. O roteiro (que descobri, foi até indicado ao Oscar em 1965) é criterioso e muito mais comedido do que eu pensava (na minha memória, para se ter uma ideia, eu tinha uma impressão similar ao genial e devastador "Deu A Louca No Mundo"), e seu vilão -interpretado com fleuma e excelência por Terry Thomas -não lembrava tanto assim o Dick Vigarista do desenho animado "Corrida Maluca" (na verdade, quem lembra ele de fato é o Jack Lemmon em "A Corrida do Século"!).
Era um filme um pouco mais datado, um pouco, talvez, até mais adulto do que me recordava. Mas ainda era uma filme sensacional. Desses que restaura sua fé no cinema após ver tantas bobagens.
No final, minhas memórias de infância continuaram intactas (e felizmente, muito bem representadas).

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