Dentre os títulos que compõem a “trilogia do
apartamento” –os outros são “Repulsa Ao Sexo” e “O Bebê de Rosemary” –“O
Inquilino” é o que preserva uma estrutura narrativa fiel ao jansenismo, com o
qual certamente Roman Polanski tinha forte identificação: Não apenas neste
filme a narrativa é circular (como comprova o alarmante, misterioso e
fascinante epílogo) como também –o quê é habitual no inclemente cinema de
Polanski –a trama reforça as certezas de que é o homem o elaborador de sua própria
ruína.
Quando um jovem imigrante polonês se hospeda no
apartamento de um prédio londrino, ele logo descobre que os moradores não fazem
a menor questão de esconder seu desprezo.
Ele sabe que o morador anterior de seu
apartamento tentou cometer suicídio. O que ele não sabe é que as razões para
esse suicídio irão assombrar sua mente nas semanas por vir, quando o simples
ato de viver naquele lugar se tornará um verdadeiro inferno.
Aos poucos, ocorrências corriqueiras do
cotidiano vão se somar umas às outras, acarretando momentos em que ele não
saberá discernir realidade de alucinação, drenando-lhe assim a lucidez. Fazendo
com que sua personalidade se confunda com a do inquilino anterior (que, a
propósito, era uma mulher).
Este conto de suspense primoroso sobre o poder
opressivo da discriminação é um perfeito exemplo da excelência que o diretor (e
aqui também ator) Polanski não tardou a atingir em sua carreira (uma pena esta
grande obra ser muito menos conhecida do que seus trabalhos em solo
norte-americano como “Chinatown” e o próprio “O Bebê de Rosemary”).
As cenas construídas por
Polanski, assim como a atmosfera de desalento, acompanhadas de um indissolúvel
sarcasmo são uma verdadeira aula de cinema, e o final, aberto a múltiplas
interpretações e significados, é um daqueles momentos que nos perseguem por
dias a fio.
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