Concebido por Win Wenders, entre outras coisas, para ser um amálgama sentimental e alegórico dos conceitos metafísicos que fragmentavam a Europa, o filme original alemão (lançado em 1989), "Asas do Desejo" mostra dois anjos testemunhando a diversidade
do destino ao contemplarem as inúmeras vidas a se cruzar em uma Berlim em preto
e branco.
Para um deles (Bruno Ganz), a humanidade é uma fonte de fascínio menos pelos erros paulatinamente cometidos (e recordados sistematicamente pelo outro anjo) e mais por sua mesmerizante condição (na qual se submetem às emoções bárbaras de existência mundana).
Os anjos vêem o amor como a suprema emoção a definir essa vulnerabilidade humana e logo, o protagonista tem um interesse maior despertado por uma trapezista de circo, passando aos poucos a se perguntar acerca das sensibilidades terrenas –sentir um toque, ou um sabor, um cheiro, ou mesmo ser capaz de enxergar as cores –privilégios estes reservados aos humanos, e que os anjos não têm.
Há um meio de conseguir isso, e tornar-se humano; e como toda escolha de ordem tão radicalmente existencialista, ela vem atrelada a um dilema irreversível: Saborear a humanidade e tudo que com ela pode vir a arcar, seja bom ou mal, requer que ele tenha também que abrir mão de sua imortalidade.
E na narrativa de Wenders, não existe diálogo de natureza erudita (que os anjos trocam uns com os outros o tempo todo) capaz de sobrepujar o arrebatamento instintivo presente numa emoção passível de embriagar qualquer um.
Os tempos e os contratempos do amor são aqui vistos numa ótica distinta daqueles que por ventura estiverem habituados demais ao cinema americano: Não há inconstâncias e imaturidades, nem encontros e desencontros; e Wenders enxerga a relação a dois com o mesmo teor político que enxerga a vivência como um todo.
E essa profundidade acarreta um valor estupendo à "Asas do Desejo": É por amor que o anjo abdica de sua monocromática condição celestial para abraçar a colorida, finita e suja condição humana, mas, Wenders parece nos instigar a perguntar, como essa pode ser uma escolha justa (ou coerente) se este ser, o anjo, não tem ideia da miríade mutável e indefinida do amor?
No desfecho, é com essa questão que o anjo (agora, humano) precisa se defrontar: O amor que o levou à escolha mais irreversível de sua existência muda, não é mais o mesmo amor extasiante e intenso, mas, ele não muda mais...
Eis a verdade que nos fadamos a passar o resto da vida a ruminar...
Para um deles (Bruno Ganz), a humanidade é uma fonte de fascínio menos pelos erros paulatinamente cometidos (e recordados sistematicamente pelo outro anjo) e mais por sua mesmerizante condição (na qual se submetem às emoções bárbaras de existência mundana).
Os anjos vêem o amor como a suprema emoção a definir essa vulnerabilidade humana e logo, o protagonista tem um interesse maior despertado por uma trapezista de circo, passando aos poucos a se perguntar acerca das sensibilidades terrenas –sentir um toque, ou um sabor, um cheiro, ou mesmo ser capaz de enxergar as cores –privilégios estes reservados aos humanos, e que os anjos não têm.
Há um meio de conseguir isso, e tornar-se humano; e como toda escolha de ordem tão radicalmente existencialista, ela vem atrelada a um dilema irreversível: Saborear a humanidade e tudo que com ela pode vir a arcar, seja bom ou mal, requer que ele tenha também que abrir mão de sua imortalidade.
E na narrativa de Wenders, não existe diálogo de natureza erudita (que os anjos trocam uns com os outros o tempo todo) capaz de sobrepujar o arrebatamento instintivo presente numa emoção passível de embriagar qualquer um.
Os tempos e os contratempos do amor são aqui vistos numa ótica distinta daqueles que por ventura estiverem habituados demais ao cinema americano: Não há inconstâncias e imaturidades, nem encontros e desencontros; e Wenders enxerga a relação a dois com o mesmo teor político que enxerga a vivência como um todo.
E essa profundidade acarreta um valor estupendo à "Asas do Desejo": É por amor que o anjo abdica de sua monocromática condição celestial para abraçar a colorida, finita e suja condição humana, mas, Wenders parece nos instigar a perguntar, como essa pode ser uma escolha justa (ou coerente) se este ser, o anjo, não tem ideia da miríade mutável e indefinida do amor?
No desfecho, é com essa questão que o anjo (agora, humano) precisa se defrontar: O amor que o levou à escolha mais irreversível de sua existência muda, não é mais o mesmo amor extasiante e intenso, mas, ele não muda mais...
Eis a verdade que nos fadamos a passar o resto da vida a ruminar...
Já a refilmagem norte-americana oferece uma série de concessões, num esforço para preservar a beleza etérea do filme original num corpo mais comercialmente apetecível.
Nicolas Cage é Seth, um anjo que vaga pela cidade de Los Angeles testemunhando as aflições e felicidades do cotidiano humano. Vez ou outra, seu toque lhes trás conforto enquanto busca entender aqueles seres que experimentam emoções extremas que ele é incapaz de sentir. Nas imediações de um hospital, Seth se apaixona por uma jovem médica cuja perda de um paciente a fez questionar suas escolhas de vida. Pela primeira vez, ele passa a almejar um meio de tornar-se humano e viver esse amor. Mas a vida irá lhe impor escolhas dolorosas.
Nicolas Cage é Seth, um anjo que vaga pela cidade de Los Angeles testemunhando as aflições e felicidades do cotidiano humano. Vez ou outra, seu toque lhes trás conforto enquanto busca entender aqueles seres que experimentam emoções extremas que ele é incapaz de sentir. Nas imediações de um hospital, Seth se apaixona por uma jovem médica cuja perda de um paciente a fez questionar suas escolhas de vida. Pela primeira vez, ele passa a almejar um meio de tornar-se humano e viver esse amor. Mas a vida irá lhe impor escolhas dolorosas.
Em ambos seus protagonistas são confrontados
com as variações inesperadas e idiossincráticas do amor. E é exatamente isso
que os filmes são: Histórias de amor, ou de como o amor pode se mostrar
impossível.
No clássico de Win Wenders, talvez o mais
amargo dos dois, temos uma visão menos idealizada da percepção do amor (também
pudera, o filme não é americano!), e um final em aberto que pode ser, ou não,
ainda mais devastador do que o desfecho do outro filme.
Na refilmagem, há o sério risco de muitos
cometerem o engano de tratar-se de uma comédia romântica, devido à presença de
Meg Ryan, estrela prolixa desse gênero nos anos 1990.
Não é.
Na realidade, esta produção é espantosamente tão dotada de maestria e sensibilidade quanto o filme original, muito em parte graças às escolhas do diretor Brad Silberling, que dá a sua narrativa um belo tratamento de filme europeu, provavelmente intoxicado pelo inspirado trabalho de Wenders em “Asas do Desejo”, e pela belíssima presença de Nicolas Cage.
Estes dois filmes são casos
raríssimos de original e refilmagem no qual ambas são obras recompensadoras (a
exemplo de “Os Sete Samurais” e “Sete Homens e Um Destino”), inclusive evitando
a repetição da história: Embora traga suas similaridades, “Cidade dos Anjos” tem
uma história diferente, com caminhos diferentes de “Asas do Desejo”. Os dois
filmes, inclusive, têm o poder de deixar o expectador só e reflexivo, mas com
um sorriso no rosto.Não é.
Na realidade, esta produção é espantosamente tão dotada de maestria e sensibilidade quanto o filme original, muito em parte graças às escolhas do diretor Brad Silberling, que dá a sua narrativa um belo tratamento de filme europeu, provavelmente intoxicado pelo inspirado trabalho de Wenders em “Asas do Desejo”, e pela belíssima presença de Nicolas Cage.
Sem a minima comparação, Assas do Desejo é 1000 vezes melhor.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirEu sou completamente apaixonada por esses filmes e por como abordam com absurda sensibilidade a existência humana, desde nossas experiências mais cotidianas e sensoriais como tocar, sentir cheiros e gostos, às experiências mais sublimes e sofridas, como o amor e a dor. Incríveis! Absurdamente incríveis! A Sétima Arte é poderosa e impactante demais!
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