segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Interestelar

Tal qual o mestre Stanley Kubrick (cujo "2001-Uma Odisséia No Espaço" é amplamente homenageado aqui), o diretor Christopher Nolan concebe uma obra onde o cinema tem o compromisso de ir além, seja em brilhantismo técnico, seja em emoção.
Nolan já havia dado sinais disso em seus filmes anteriores, todos eles (proposital ou não) feitos de modo a se irmanarem à tradição norte-americana dos gêneros a que pertencem.
Isso podia ser visto na brilhante "Trilogia do Cavaleiro das Trevas" (onde inseria um herói de histórias em quadrinhos, Batman, numa narrativa com atmosfera dos filmes policiais dos anos 1970), ou em um de seus maiores trabalhos, "A Origem" (uma obra sobre sonhos, com atrevimentos lynchianos, inclusive mas cuja estrutura segue a de um filme de assalto).
"Interestelar" é, em tudo e por tudo, um passo além.
Num futuro onde a humanidade esgotou a fertilidade do planeta Terra, uma expedição espacial, liderada pelo ex-piloto Cooper, parte para os confins do universo, a fim de procurar um novo planeta para onde a raça humana possa migrar, fugindo assim da extinção.
 Cooper deixa para trás sua família, e sua filha Murphy, de apenas dez anos de idade. 
A viagem espacial em si transcorrerá ao longo de anos (décadas, até!) e apresentará contratempos com os quais eles não estavam preparados. Enquanto isso, na terra, Murphy trilhará seu próprio caminho tentando, também ela, encontrar uma chance para a humanidade.
E se há algo próximo a uma evolução no trabalho de Nolan em relação a seus outros filmes, aqui, ela diz respeito à emoção. Ela nunca antes foi tão palpável e vívida num filme seu.
E o responsável para isso é, em grande parte, o ator Matthew McConaughey. Aliás, sejamos justo: É quase todo o elenco (que nos filmes de Nolan costuma ser sempre espetacular), como Jessica Chastain, Anne Hathaway, e Michael Caine (praticamente o ator-assinatura de Nolan).
É curioso que ao ressaltar a emoção (tão teorizada e escanteada em seus trabalhos mais pragmáticos, e que aqui concentra-se sobretudo na relação pai-e-filha, e na expectativa de um cada vez mais impossível reencontro), o filme acaba fortalecendo uma característica que é onipresente na filmografia de Nolan: O suspense.
Na verdade, eu diria que "Interestelar", a despeito do uso imodesto que seu roteiro faz de suas próprias implicações e ramificações, é um filme que submete o expectador a uma experiência emocional das mais intensas: Experimenta-se todo o tipo de sensação durante suas quase três horas, do súbito alívio a uma flagrante surpresa, da dolorosa desesperança à uma inesperada catarse.
Dessa forma, quando Nolan escolhe o momento de encerrar o filme, os personagens e sua história terminam nos deixam esgotados, tantas foram as emoções que nos levaram a sentir.

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