segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Tenebre

Os 'gialli' de Dario Argento se ambientam num universo à parte, com seus assassinos de luvas pretas, e o sangue abundante de suas vítimas femininas. É um mundo com regras distintas onde, por vezes, a coerência se revela escorregadia, e o humor dos personagens flutua em cenas cuja reflexão está a serviço da condição restrita da vida e da morte. Não só os de Dario Argento, na verdade, mas principalmente os dele.
Acrescente-se a isso o senso de observação que só ele tem: Argento é um aprendiz de Hitchcoock, ainda mais voyeur do que seu mestre.
Mais do que sobre morte, terror e sangue, seu cinema é sobre o exercício do olhar.
Olhar até que a cena observada ganhe um novo significado, revele um novo porque, como se ali fosse uma mina de pedras preciosas, e a câmera, uma picareta com a qual a persistência da garimpagem há de extrair o diamante da verdade.
Por esse ângulo, "Tenebre" é um desbunde. A trama (enquanto coerência lógica) e as motivações dos personagens são, muitas vezes, deixados em segundo plano: E Argento sacrifica-os sem cerimônia em prol de reviravoltas inesperadas e momentos de impacto. O que importa. acima de tudo, é o modo como se dá a condução do mistério e as explosivas cenas de primor cinematográfico que Dario Argento intercala nesse andamento. "Tenebre" é, sem a menor dúvida, uma das obras mais bem resolvidas do italiano, superior até mesmo ao seu tão aclamado "Suspiria".
Ele não perde o controle nem mesmo no ato final, quando pressiona a narrativa sem necessidade para estendê-la um segmento a mais.

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