Os 'gialli' de Dario Argento se ambientam num
universo à parte, com seus assassinos de luvas pretas, e o sangue abundante de
suas vítimas femininas. É um mundo com regras distintas onde, por vezes, a
coerência se revela escorregadia, e o humor dos personagens flutua em cenas
cuja reflexão está a serviço da condição restrita da vida e da morte. Não só os
de Dario Argento, na verdade, mas principalmente os dele.
Acrescente-se a isso o senso de observação que
só ele tem: Argento é um aprendiz de Hitchcoock, ainda mais voyeur do que seu
mestre.
Mais do que sobre morte, terror e sangue, seu
cinema é sobre o exercício do olhar.
Olhar até que a cena observada ganhe um novo
significado, revele um novo porque, como se ali fosse uma mina de pedras
preciosas, e a câmera, uma picareta com a qual a persistência da garimpagem há
de extrair o diamante da verdade.
Por esse ângulo, "Tenebre" é um
desbunde. A trama (enquanto coerência lógica) e as motivações dos personagens
são, muitas vezes, deixados em segundo plano: E Argento sacrifica-os sem
cerimônia em prol de reviravoltas inesperadas e momentos de impacto. O que
importa. acima de tudo, é o modo como se dá a condução do mistério e as
explosivas cenas de primor cinematográfico que Dario Argento intercala nesse
andamento. "Tenebre" é, sem a menor dúvida, uma das obras mais bem
resolvidas do italiano, superior até mesmo ao seu tão aclamado "Suspiria".
Ele não perde o controle
nem mesmo no ato final, quando pressiona a narrativa sem necessidade para
estendê-la um segmento a mais.
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