Há um esforço nítido, até louvável, do diretor
Mike Newell em transpor a prosa minimalista, colorida e vívida de Gabriel
Garcia Marquez para a tela do cinema.
Esse é, desde já, um objetivo fadado ao
fracasso, ou como seria mais justo neste caso específico, fadado a uma
incongruente irrelevância em sua graciosidade.
A verve de Garcia Marquez é única e inimitável.
Adaptá-la para outra mídia, então, uma ingrata tarefa. Prova disso, é o pouco
conhecido e mediano (ainda que profundamente falho) "Ninguém Escreve Ao
Capitão". Que o trabalho de adaptação da obra seja de uma fidelidade quase
religiosa é algo de se esperar nesse esmero tão engajado.
O filme não poupa seus personagens. Apesar do
clima incontornavelmente fantasioso que é inerente à Garcia Marquez, esse
surrealismo não lhes alivia a barra: À eles está destinada toda sorte de
frustrações, humilhações e desilusões que competem à condição humana. Embora a
trama não lhes negue (no caso do casal protagonista) alguma redenção.
Na história, vemos o amor entre Florentino
(Javier Bardem, sempre muito bom) e Fermina (a linda Giovanna Mezzogiorno) ser
tolhido -e interrompido por uns bons cinquenta anos! -pelo pai da jovem, em
prol do médido recém-chegado à aldeia. A amargura do protagonista acaba sendo
também o que lhe afasta do mundo e das necessidades mundanas, pelo menos, a
partir do momento em que ele descobre o encanto das mulheres que se entregam à
ele (e as cenas subsequentes não economizam na beleza e na nudez delas), embora
seu coração jamais deixe de querer mesmo Fermina.
E essa questão -a de se ter demais algo, em
contraponto ao que se anseia sem nunca obter -é o drama que aflige o filme, o
norte para o qual sua bússola apontará do primeiro ao último minuto.
Tal qual convêm ao romantismo rasgado que
remete ao livro (e que remete, por sua vez, à 'latinidad' de seu autor), anos
se transcorrerão com os personagens a padecer nessa expectativa de amor.
Que tudo seja amarrado com saborosa fluidez, é
um dado que vem a amenizar uma possível desolação advinda disso, cortesia do
indisfarçável timbre comercial do diretor Newell (artesão dos mais ecléticos
tendo realizados obras desde a comédia "Quatro Casamentos e Um
Funeral" até produções como "Harry Potter e O Cálice de Fogo").
Outro deleite é poder
conferir Fernanda Montenegro numa produção internacional, embora muitos digam
(com certa razão) que ela está sub-aproveitada.
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