sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Histórias Cruzadas

A história contida no romance de Kathryn Stockett era praticamente um filme pedindo para ser feito, e isso culminou num projeto acarinhado por Hollywood com todo o cuidado do mundo –refletido, por exemplo, na escolha primordial das atrizes, uma das mais luminosas reuniões de talentos do cinema recente.
Para dirigir o filme, a escritora Stockett bateu o pé com a produtora Touchstone Pictures (a divisão de filmes mais adultos da Disney) e exigiu o nome de seu grande amigo Tate Taylor –que pode ser visto trabalhando como ator em “Inverno da Alma”.
Ainda que sem títulos mais vultuosos no currículo, Tate Taylor honrou a confiança nele depositada e entregou um trabalho plural, refinado, emocionante e atento às mais delicadas minúcias empregadas na narrativa múltipla; um trabalho que poderia facilmente resultar irregular e fora de tom, mas que demonstra um equilíbrio notável, inclusive na hábil dinâmica entre o humor e o drama.
Anos 1960. Nutrindo um sonho de tornar-se escritora, a jovem Skeeter (Emma Stone) –nascida e criada no município de Jackson, no Mississipi –decide escrever uma coletânea única; depoimentos reais (cheios de dor e vivacidade) de empregadas domésticas negras que, a exemplo das escravas do passado, recebem o mais inferior dos tratamentos de suas patroas brancas. 
Os principais depoimentos são de Aibeleen (Viola Davis), que cria com amor e dedicação a filhinha de uma obtusa dona de casa, a despeito da pessimista perspectiva de que as filha ficam sempre iguais às mães; e Minny (Octavia Spencer, vencedora do Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante), a esperta doméstica de uma mulher racista e maldosa (Bryce Dallas Howard). 
Diante dos obstáculos evidentes (e nem tanto) de uma idéia assim, testemunhar a concretização de tal objetivo acaba sendo uma jornada fantástica.
Mais até do que um filme sobre racismo e sobre a luta pelos direitos civis, este impressionante trabalho de Tate Taylor é uma ode ao caráter, onde as lágrimas por vezes se tornam inevitáveis: Seu maior acerto é deixar sua linda história falar por si, e não fazer nada para desviar a atenção do grande brilho da produção: Suas atrizes maravilhosas. 
É um emotivo e não raro bem-humorado painel de tramas que abrange o sempre pertinente tema do racismo com um dos mais brilhantes elencos femininos já reunidos em filme: Emma Stone está adorável como sempre, Octavia Spencer e Jessica Chastain são geniais cada uma ao seu modo, mas a grande força da narrativa é Viola Davis.
Um filme de tocar o coração.

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