quarta-feira, 4 de novembro de 2015

A Igualdade É Branca

É bastante curioso o fato de Krzysztof Kieslowski, um diretor polonês, ter realizado essa “Trilogia das Cores” em homenagem às cores da bandeira francesa, a pedido do produtor Marin Karmitz, quando pensamos que os franceses sempre tão orgulhosos e tradicionalistas, deveriam escolher um francês para honrar os preceitos de sua pátria. 
É este o episódio que talvez melhor explica isso. 
Nele, um imigrante polonês deixa a França, e por conseqüência sua esposa francesa, amargurada pela estagnação do casamento (cuja culpa ela põe em sua impotência). De volta à Polônia, ele inicia um negócio com o qual prospera, o quê pode lhe proporcionar uma gaiata redenção. 
Em tom de comédia (o quê é muito bem vindo diante da angústia tão pungente do filme anterior), e banhado em uma luz branca e profunda que emana dos campos cobertos por neve sem fim da Polônia, a aventura do protagonista o coloca em justaposição a todos os revezes que enfrentou, e se possível, a todos eles tentar prevalecer. 
É claro que, diante das relevâncias emotivas e narrativas, é o assunto pendente com a esposa francesa que ganha destaque. E para abrilhantá-lo, Kieslowski ainda recrutou mais uma atriz francesa sensacional (Julie Delpy, de "Antes do Amanhecer", então uma revelação dos anos 1990). 
Grande diretor, ele parece saber muito bem do que está falando, e visto que este é seu filme onde mais se encontra pontos de identificação em seu autor, essa não é uma conclusão equivocada. Talvez seja isso que Kieslowski pede, aqui, aos seus pares: uma visão de maior igualdade. 
E tamanha é sua grandeza de espírito, que ele deixa um pouco de lado o drama dilacerante, para junto com sua mensagem, fazê-los rir um pouquinho.

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