Embriagante, este quase exercício de estilo de
Paolo Sorrentino, no qual se percebe o sabor, a verve e o sentimento que guiam
também a obra de Federico Fellini, “A Doce Vida”.
Sempre considerei aquele filme, o trabalho no
qual Fellini mais se aproxima de uma observação similar à que Antonioni buscou
em sua própria filmografia, um estudo todo ele carregado de minúcia, e
principalmente, experiência de causa.
Fazer alusão á uma obra dessa estatura era,
portanto, um risco tremendo.
Mas, felizmente, Sorrentino é talentoso. Seu
domínio da arte faz com que as câmeras que pairam ao redor de seu elenco sejam
hipnóticas, o que lhe dá oportunidade para interessantes atrevimentos
narrativos, como uma cold open estendida a ponto de quase esquecermos que o
título do filme iria, em algum momento, aparecer. A própria sucessão de cenas
que ele elabora parece não ter pressa (ou, talvez, nem mesmo querer) em contar
sua história: O que Sorrentino nos entrega é um turbilhão quase episódico de
acontecimentos pontuados por observações abstratas, filosóficas até, que vez ou
outra escapa da boca de alguns personagens.
Entre um e outro desses momentos, precisamos
‘pescar’ uma história que se desenvolve ali. Para dela tirar um cerne e um
contexto.
A sensação provocada por tal experiência seria
o estranhamento, se Sorrentino não fosse um diretor em estado de graça, capaz
de tornar prazeroso, até mesmo um diálogo pseudo-intelectual de botequim.
São muitos os deslumbres
aos quais ele generosamente proporciona o expectador, em meio a tantos, eu
destaco a nudez afrodisíaca e madura de Sabrina Ferilli, e a atuação saborosa,
plena de satisfação e de encanto, de Toni Servillo.
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