quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

A Grande Beleza

Embriagante, este quase exercício de estilo de Paolo Sorrentino, no qual se percebe o sabor, a verve e o sentimento que guiam também a obra de Federico Fellini, “A Doce Vida”. 
Sempre considerei aquele filme, o trabalho no qual Fellini mais se aproxima de uma observação similar à que Antonioni buscou em sua própria filmografia, um estudo todo ele carregado de minúcia, e principalmente, experiência de causa. 
Fazer alusão á uma obra dessa estatura era, portanto, um risco tremendo. 
Mas, felizmente, Sorrentino é talentoso. Seu domínio da arte faz com que as câmeras que pairam ao redor de seu elenco sejam hipnóticas, o que lhe dá oportunidade para interessantes atrevimentos narrativos, como uma cold open estendida a ponto de quase esquecermos que o título do filme iria, em algum momento, aparecer. A própria sucessão de cenas que ele elabora parece não ter pressa (ou, talvez, nem mesmo querer) em contar sua história: O que Sorrentino nos entrega é um turbilhão quase episódico de acontecimentos pontuados por observações abstratas, filosóficas até, que vez ou outra escapa da boca de alguns personagens. 
Entre um e outro desses momentos, precisamos ‘pescar’ uma história que se desenvolve ali. Para dela tirar um cerne e um contexto. 
A sensação provocada por tal experiência seria o estranhamento, se Sorrentino não fosse um diretor em estado de graça, capaz de tornar prazeroso, até mesmo um diálogo pseudo-intelectual de botequim. 
São muitos os deslumbres aos quais ele generosamente proporciona o expectador, em meio a tantos, eu destaco a nudez afrodisíaca e madura de Sabrina Ferilli, e a atuação saborosa, plena de satisfação e de encanto, de Toni Servillo.

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