quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

2001 - Uma Odisséia No Espaço

Um entendimento de cinema ímpar sempre pulsou da mente de Stanley Kubrick. Nas produções em que isso se expressou com maior clareza, foi possível testemunhar a História da sétima arte sendo escrita. 
O mestre realizou treze longa-metragens. Pelo menos sete deles, de uma grandeza primal e absoluta. 
É “2001-Uma Odisséia No Espaço”, na maioria das vezes, considerado o melhor. 
São três grandes e alegóricas sequências, interligadas pelo mesmo e enigmático monolito negro. Na primeira, uma comunidade de símios, em eterno confronto com uma comunidade-rival tem que evoluir para superar seus inimigos, o quê lhes dá a vantagem de manusear armas, mas também lhes abre as portas para a guerra e a morte. Na segunda, o planeta Terra identifica um sinal vindo do espaço, o quê conduz seus astronautas a uma misteriosa missão. E na terceira, passada três anos depois, um novo grupo segue em direção ao planeta Júpiter, onde enfrentarão uma inusitada insurreição de seu computador, para depois encarar o imponderável futuro da raça humana. 
Apesar de tudo o quê é dito, poucas dissertações são capazes de preparar o espírito para a experiência que é “2001”, ou para a poderosa crise existencial que normalmente se segue a ela. 
Kubrick vislumbra aqui a essência do que entendemos por humanidade. Desde os primórdios, na primeira parte do filme, seu registro analítico ressalta, preocupado, o instinto de auto-destruição do homem que nunca o abandona, nem mesmo quando a evolução se faz presente: Quando os símios aprendem o uso das armas, sua primeira atitude é eliminar seus semelhantes. 
E, a despeito da perfeição aterradora da maquiagem símia nos atores, fica muito claro que eles morrem de uma forma bastante humana. 
Kubrick, em seguida, salta milênios na trajetória humana (numa cena que é um dos muitos momentos seminais do cinema oriundos deste filme), e acompanha os homens modernizados do futuro, em uma série de cenas nas quais, apesar da maquiagem proporcionada pela tecnologia e pela evolução, percebe-se que eles em nada mudaram; continuam disputando uns com outros, interessados em armas (a nave que voa ao som de Danúbio Azul porta ogivas nucleares), e sem confiar em si mesmos. 
Logo, perceberemos que a misteriosa missão que ocupará a maior parte da trama está envolta em questões insolúveis, a desafiar sua compreensão, reduzindo os cientistas e astronautas ao mesmo estado dos homens primitivos do começo. O trecho final, desafiador como poucos segmentos até hoje realizados, é uma declaração visual sobre a condição humana e suas infinitas implicações. 
Pode vir a ter uma centena de significados, e todos podem fazer sentido, tamanha é a amplitude que alcança a visão de Kubrick como artista e autor.

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