Um entendimento de cinema ímpar sempre pulsou
da mente de Stanley Kubrick. Nas produções em que isso se expressou com maior
clareza, foi possível testemunhar a História da sétima arte sendo
escrita.
O mestre realizou treze longa-metragens. Pelo
menos sete deles, de uma grandeza primal e absoluta.
É “2001-Uma Odisséia No Espaço”, na maioria das
vezes, considerado o melhor.
São três grandes e alegóricas sequências,
interligadas pelo mesmo e enigmático monolito negro. Na primeira, uma
comunidade de símios, em eterno confronto com uma comunidade-rival tem que
evoluir para superar seus inimigos, o quê lhes dá a vantagem de manusear armas,
mas também lhes abre as portas para a guerra e a morte. Na segunda, o planeta
Terra identifica um sinal vindo do espaço, o quê conduz seus astronautas a uma
misteriosa missão. E na terceira, passada três anos depois, um novo grupo segue
em direção ao planeta Júpiter, onde enfrentarão uma inusitada insurreição de
seu computador, para depois encarar o imponderável futuro da raça humana.
Apesar de tudo o quê é dito, poucas
dissertações são capazes de preparar o espírito para a experiência que é
“2001”, ou para a poderosa crise existencial que normalmente se segue a
ela.
Kubrick vislumbra aqui a essência do que
entendemos por humanidade. Desde os primórdios, na primeira parte do filme, seu
registro analítico ressalta, preocupado, o instinto de auto-destruição do homem
que nunca o abandona, nem mesmo quando a evolução se faz presente: Quando os
símios aprendem o uso das armas, sua primeira atitude é eliminar seus
semelhantes.
E, a despeito da perfeição aterradora da
maquiagem símia nos atores, fica muito claro que eles morrem de uma forma
bastante humana.
Kubrick, em seguida, salta milênios na
trajetória humana (numa cena que é um dos muitos momentos seminais do cinema
oriundos deste filme), e acompanha os homens modernizados do futuro, em uma
série de cenas nas quais, apesar da maquiagem proporcionada pela tecnologia e
pela evolução, percebe-se que eles em nada mudaram; continuam disputando uns
com outros, interessados em armas (a nave que voa ao som de Danúbio Azul porta
ogivas nucleares), e sem confiar em si mesmos.
Logo, perceberemos que a misteriosa missão que
ocupará a maior parte da trama está envolta em questões insolúveis, a desafiar
sua compreensão, reduzindo os cientistas e astronautas ao mesmo estado dos
homens primitivos do começo. O trecho final, desafiador como poucos segmentos
até hoje realizados, é uma declaração visual sobre a condição humana e suas
infinitas implicações.
Pode vir a ter uma centena
de significados, e todos podem fazer sentido, tamanha é a amplitude que alcança
a visão de Kubrick como artista e autor.
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