sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Corrente do Mal

Muito bom! É o que se pode afirmar do trabalho de David Robert Mitchell, com expressiva folga, o melhor filme de terror do ano. 
Os cinéfilos mais velhos vão adorar o clima de filme oitentista imposto pelo diretor através dos filtros de câmera com luz estourada, dos detalhes cênicos da ambientação (televisores de válvula que exibem, o tempo todo, filmes em preto e branco), e da climática trilha sonora. Por isso, fica difícil dizer se o filme se passa mesmo nos anos 1980l ou se é só uma apaixonada referência, já que um celular e um smartphone parecem surgir em dois momentos essenciais da narrativa. 
É mais um elemento dúbio, dos vários que povoam esta obra, o que o torna ainda mais precioso em meio à tantas produções genéricas, didáticas e mastigadas. 
Num ritmo sem pressa, Mitchell conta pouco a pouco a trama macabra que enreda sua protagonista (a linda Maika Monroe), uma jovem normal que envolve-se com um rapaz, em todos os aspectos, também normal. Mas, ele tem um segredo. E espera o momento posterior à eles terem feito sexo para revelá-lo: Uma maldição (ou algo assim) o persegue. Um espectro sem forma, sem aparência, mas que sempre o segue na mesma vagarosa e constante marcha. Pode assumir qualquer forma, e quando alcançá-lo, o matará. Contudo, tal maldição já não pertence mais a ele; agora que fizeram sexo é ela quem aquele espectro perseguirá. A menos que ela passe essa maldição adiante. Ou seja, faça sexo com outra pessoa. 
A analogia com as doenças venéreas em geral, e a AIDS em particular, é tão imediata e óbvia, que a narrativa se presta a outras associações, menos evidentes, mas igualmente pertinentes. 
É sobretudo, uma visão cheia de metáforas, do fardo de crescer, e das obrigações implícitas que se herda com isso, e que invariavelmente envolvem outras pessoas, emoldurada por uma poderosa e tétrica atmosfera. 
Para tanto, muito do que se supõe ser o desenlace do filme fica em aberto. 
Robert Mitchell é um notável diretor, e a julgar por este trabalho pode-se esperar muito dele. As cenas finais (e, por conseguinte, todo o filme, afinal) são brilhantemente elaboradas para que, com seus planos e enquadramentos bem pensados e sugestivos, abram inúmeras hipóteses na mente do expectador. 
Como fazia falta um filme assim.

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