Muito bom! É o que se pode afirmar do trabalho
de David Robert Mitchell, com expressiva folga, o melhor filme de terror do
ano.
Os cinéfilos mais velhos vão adorar o clima de
filme oitentista imposto pelo diretor através dos filtros de câmera com luz
estourada, dos detalhes cênicos da ambientação (televisores de válvula que
exibem, o tempo todo, filmes em preto e branco), e da climática trilha sonora.
Por isso, fica difícil dizer se o filme se passa mesmo nos anos 1980l ou se é
só uma apaixonada referência, já que um celular e um smartphone parecem surgir
em dois momentos essenciais da narrativa.
É mais um elemento dúbio, dos vários que povoam
esta obra, o que o torna ainda mais precioso em meio à tantas produções
genéricas, didáticas e mastigadas.
Num ritmo sem pressa, Mitchell conta pouco a
pouco a trama macabra que enreda sua protagonista (a linda Maika Monroe), uma
jovem normal que envolve-se com um rapaz, em todos os aspectos, também normal.
Mas, ele tem um segredo. E espera o momento posterior à eles terem feito sexo
para revelá-lo: Uma maldição (ou algo assim) o persegue. Um espectro sem forma,
sem aparência, mas que sempre o segue na mesma vagarosa e constante marcha.
Pode assumir qualquer forma, e quando alcançá-lo, o matará. Contudo, tal
maldição já não pertence mais a ele; agora que fizeram sexo é ela quem aquele
espectro perseguirá. A menos que ela passe essa maldição adiante. Ou seja, faça
sexo com outra pessoa.
A analogia com as doenças venéreas em geral, e
a AIDS em particular, é tão imediata e óbvia, que a narrativa se presta a
outras associações, menos evidentes, mas igualmente pertinentes.
É sobretudo, uma visão cheia de metáforas, do
fardo de crescer, e das obrigações implícitas que se herda com isso, e que
invariavelmente envolvem outras pessoas, emoldurada por uma poderosa e tétrica
atmosfera.
Para tanto, muito do que se supõe ser o
desenlace do filme fica em aberto.
Robert Mitchell é um notável diretor, e a
julgar por este trabalho pode-se esperar muito dele. As cenas finais (e, por
conseguinte, todo o filme, afinal) são brilhantemente elaboradas para que, com
seus planos e enquadramentos bem pensados e sugestivos, abram inúmeras
hipóteses na mente do expectador.
Como fazia falta um filme
assim.
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