domingo, 21 de fevereiro de 2016

Deadpool

Uma sinceridade desesperada pulsa do personagem principal. E tão desesperada ela é que ele dirige-se à platéia na já alardeada quebra da quarta parede que o filme promove (ele tira sarro de outros personagens, e de si próprio, dos atores que os interpretam, e até mesmo das ocasionais limitações orçamentárias da produção). Esse é um dos muitos elementos com sabor de ineditismo que o filme tem.
“Deadpool” é, como seu personagem-título, todo sarcasmo e energia, inclusive nas generosas cenas de ação. Mas, assim como o bom-mocismo mais cedo ou mais tarde aparecerá para nortear os atos do inconseqüente protagonista (motivados quase que integralmente pela agradável presença da bela brasileira Morena Baccarin), também o seu filme não irá fugir, em alguns momentos, daquelas típicas manobras de obras de apelo comercial: E estamos, afinal, diante de um filme sobre a origem de um personagem da Marvel. Mesmo que um dos mais desiguais.
Wade Wilson é um ex-fuzileiro que passou a disponibilizar suas habilidades em combate como uma espécie de mercenário. Desbocado e politicamente incorreto, ele se ajusta com perfeição em meio à escória onde obtem seus serviços. É por lá que conhece Vanessa Carlysle, por quem vem a se apaixonar. A felicidade dura até Wade descobrir que tem câncer e decidir se submeter a uma experiência radical. Ele adquire fabulosos poderes de regeneração mas, ao mesmo tempo, isso lhe desfigura o rosto, o quê lhe obriga a usar, para suas empreitadas como mercenário, um traje vermelho bem ao estilo histórias em quadrinhos.
O anti-herói Deadpool é um caso de personagem que surgiu como coadjuvante e foi, aos poucos, ganhando mais e mais popularidade. No início dos anos 1990, época de suas primeiras aparições nas HQs, talvez fosse inconcebível imaginar um filme todo só para ele. Na verdade, era inconcebível até em 2009, quando, já interpretado por Ryan Reynolds, ele fez sua primeira (e catastrófica) aparição cinematográfica no equivocado “X-Men Origens Wolverine”. Era um caso de um personagem tão mal caracterizado, tão sub-aproveitado e desperdiçado que parecia impossível recuperá-lo. Mas, aos trancos e barrancos, o ator Ryan Reynolds persistiu até convencer o estúdio da 20 Century Fox neste filme solo, dirigido com precisão e empolgação pelo estreante Tim Miller, primordialmente fiel à essência do personagem nos quadrinhos e –graças ao bom Deus –descartando por completo as presepadas feitas naquele outro filme.
O resultado quase não parece um filme real, mas um daqueles delírios loucos, desenfreados, carregados de euforia e intensidade nos quais os fãs sonham ver devidamente retratado no cinema o seu personagem tão cultuado. Deadpool merecia mesmo um filme assim.

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