Uma sinceridade desesperada pulsa do personagem
principal. E tão desesperada ela é que ele dirige-se à platéia na já alardeada
quebra da quarta parede que o filme promove (ele tira sarro de outros
personagens, e de si próprio, dos atores que os interpretam, e até mesmo das
ocasionais limitações orçamentárias da produção). Esse é um dos muitos
elementos com sabor de ineditismo que o filme tem.
“Deadpool” é, como seu personagem-título, todo
sarcasmo e energia, inclusive nas generosas cenas de ação. Mas, assim como o
bom-mocismo mais cedo ou mais tarde aparecerá para nortear os atos do
inconseqüente protagonista (motivados quase que integralmente pela agradável
presença da bela brasileira Morena Baccarin), também o seu filme não irá fugir,
em alguns momentos, daquelas típicas manobras de obras de apelo comercial: E
estamos, afinal, diante de um filme sobre a origem de um personagem da Marvel.
Mesmo que um dos mais desiguais.
Wade Wilson é um ex-fuzileiro que passou a
disponibilizar suas habilidades em combate como uma espécie de mercenário.
Desbocado e politicamente incorreto, ele se ajusta com perfeição em meio à
escória onde obtem seus serviços. É por lá que conhece Vanessa Carlysle, por
quem vem a se apaixonar. A felicidade dura até Wade descobrir que tem câncer e
decidir se submeter a uma experiência radical. Ele adquire fabulosos poderes de
regeneração mas, ao mesmo tempo, isso lhe desfigura o rosto, o quê lhe obriga a
usar, para suas empreitadas como mercenário, um traje vermelho bem ao estilo
histórias em quadrinhos.
O anti-herói Deadpool é um caso de personagem
que surgiu como coadjuvante e foi, aos poucos, ganhando mais e mais
popularidade. No início dos anos 1990, época de suas primeiras aparições nas
HQs, talvez fosse inconcebível imaginar um filme todo só para ele. Na verdade,
era inconcebível até em 2009, quando, já interpretado por Ryan Reynolds, ele
fez sua primeira (e catastrófica) aparição cinematográfica no equivocado “X-Men
Origens Wolverine”. Era um caso de um personagem tão mal caracterizado, tão
sub-aproveitado e desperdiçado que parecia impossível recuperá-lo. Mas, aos
trancos e barrancos, o ator Ryan Reynolds persistiu até convencer o estúdio da
20 Century Fox neste filme solo, dirigido com precisão e empolgação pelo
estreante Tim Miller, primordialmente fiel à essência do personagem nos
quadrinhos e –graças ao bom Deus –descartando por completo as presepadas feitas
naquele outro filme.
O resultado quase não
parece um filme real, mas um daqueles delírios loucos, desenfreados, carregados
de euforia e intensidade nos quais os fãs sonham ver devidamente retratado no
cinema o seu personagem tão cultuado. Deadpool merecia mesmo um filme assim.
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